quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

18:01

*Fim de Ciclo... em Marrakesh

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Laços

Os laços entre nós e outra pessoa existem apenas na nossa mente. A memória, à medida que se vai tornando mais ténue, solta-os e, não obstante a ilusão pela qual queremos ser ludibriados e com a qual, por amor, amizade, delicadeza, deferência e dever ludibriamos os outros, nós existimos sozinhos. O homem é a criatura que não consegue escapar de si própria, que conhece outras pessoas apenas em si mesmo e que mente quando afirma o contrário.

Marcel Proust

domingo, 27 de dezembro de 2009

Natais

Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.
- Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!
- Está bem, eu sei!
- E as garrafas de vinho?
- Já vão a caminho!
- Oh mãe, estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?
- Não sei, não sei...
Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!
Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!
Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
- Foi este o Natal de Jesus?!

João Coelho dos Santos - O mais belo poema de Natal

domingo, 13 de dezembro de 2009

Carry

- You should be careful when you go to the Desert... you will only find in a desert, whatever you carry there with you...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Mundial

Mais um dos meus detalhes de deslumbradozinho: o meu gosto por grandes eventos. Os Jogos Olimpicos, os campeonatos de futebol, as grandes exposições... são eventos que marcam tempos de excepção. Alturas em que se fazem dispendiosos e exagerados investimentos, onde os deficits estatais produzem estruturas e actividades extraordinárias que depois alimentam a alegria do povo. São versões modernas do Coliseu providenciando o espectáculo que entretém o povo e o faz esquecer momentaneamente da sua vidinha.

E portanto é apenas nos momentos em que fico deslumbradozinho que tudo esqueço e pouco disfarçadamente alinho pela falange dos que aplaudem a vontade de superar, de criar o imaginado, de se entregar à euforia da festa... a viver tempos de excepção. Talvez a razão desta tentação esteja precisamente nesta ultima parte: viver o que raramente se vive. Ainda que artificialmente criado, a verdade é que estas alturas são genuinamente diferentes. Tudo promovido por custos que se pretendem faraónicos... já que sem eles, os faraós, não teríamos as pirâmides!

Não posso esquecer os tempos do Euro 2004 no Porto. Na altura fui um credível céptico que acabou rendido à contagiante alegria e verdadeira festa que todos os dias enchia a cidade de um colorido nunca visto. Naquela altura pouco interessa os deficits e os desvios... vive-se algo diferente, inédito, e irreplicável. O mesmo se viveu com a Expo 98. E certamente o mesmo se viverá no Mundial 2010.

Por desvios da vida, parece-me que os astros se alinham a proporcionar-me finalmente a oportunidade de assistir a um Mundial de Futebol. Não vou naturalmente pelo futebol... vou porque sei que serão momentos inesquecíveis. Algo que vou poder guardar e contar.

Mas naturalmente, eu vou ao Mundial 2010 na África do Sul..... se tiver bilhetes!

Portanto fica aqui o repto, bilhetes... precisam-se!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Paroquial

O Cristianismo ensinou aos homens que o amor vale mais do que a inteligência.*

E de uma forma simples explica-se o problema fundamental da igreja. E no entanto...é também assim que compreendo meu profundo cristianismo.

*de Jacques Maritain, pela mão virtual do meu pároco modernista.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Vikings

Para um Latino (que podia ser romano)... eles são desconcertantes. Quanto maior o convívio... mais acho que os Gauleses estavam errados. Os malucos não são os Romanos... os malucos são eles!
*aquela cara de medo do loirito... é mesmo só pela miúda com a espada!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Saudosismos

Sim... já sei que não é bem e que me fica mal. Mas hoje não quero saber do bem e do mal e ainda menos do politicamente correcto. Sou Saudosista, de muitas coisas na (minha) vida... Hoje no meio de um pequeno acometimento, só consegui dizer...


Angola é nossa!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Leijonainen

domingo, 22 de novembro de 2009

Gripe

Pessoas conscientes e bem formadas são propensas ao uso de riscos calculados. Já aqui falei dos riscos calculados e como eles são perigosamente enganadores.

Esta história toda da gripe A é um embuste. Não encontro outra palavra e repito... Embuste! Não há outra forma de explicar o empolamento de tudo isto que não seja por motivações politicas e económicas. Não vou perder muito tempo com a argumentação deste meu ponto de vista... simplesmente é assim. E tanto é assim que aos poucos por todo este mundo as pessoas vão sendo infectadas, ficam doentes, têm febres altas, (nem sempre) tomam o anti-vírico da moda e... milagre... ficam sãs novamente!

É o que acontece no fundo com todas as gripes, que já agora provocam mais vitimas mortais por ano do que a H1N1. Claro que há grupos de risco e claro que precauções devem ser tomadas... da mesma maneira que não ando a lamber copos de desconhecidos ou a limpar-me a lenços de constipados!

No entanto, toda esta racionalidade, toda a boa formação e lucidez informada que gosto de apregoar... conduz a alguns riscos calculados. É sempre bom ver se somos realmente aquilo que dizemos, ou se somos apenas feitos de palavras que o vento leva.

Seria uma questão de tempo... porque no fundo é inevitável que, se pelo menos não for infectado, alguém muito próximo será! E é assim que alguém muito próximo comunica assustado que está... gripado! De repente, todo o meu cinismo desvanecesse na preocupação sincera por quem gosto. O primeiro instinto é accionar tudo o que for preciso para uma missão de salvamento aos confins do mundo. Claro que, no fundo... é apenas uma gripe, certo?
É aqui que somos forçados a olhar no espelho. Se acreditamos realmente no que dizemos, então controlamos a ansiedade, socorremos-nos da racionalidade e procuramos a calma das nossas certezas. É o tal risco calculado de eventualmente a realidade não ser exactamente como consideramos ou que afinal aquela percentagem reduzida de mortalidade do vírus, aplica-se apenas... aos outros!

O caso adensa ainda mais quando a perspectiva é de que estejamos também infectados. Fazer contas a períodos de incubação, procurar o "antidoto" para o vírus algo desconhecido que suspeitamos poder ter... é um bom teste ao cinismo pragmático de auto-proclamadas mentes iluminadas.

No final, o infectado fica são, e parece que o vírus não passou as minhas muralhas... ainda! Porque é bom manter uma certa dose de elucidado cinismo...


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Colinas

O numero da criação divina repete-se pelas colinas de cidades inesquecíveis...
Roma, Istambul, Barcelona e... Lisboa.

sábado, 14 de novembro de 2009

Trocadero

O gás incandescente faz descer um calor estranho que protege do frio que circunda. A artificialidade deste conforto contrasta com a pureza do momento. À medida que os corpos vão aquecendo, as mentes relaxam numa desprotegida confiança, a artificialidade esbate-se... e lentamente vai sendo encontrado um sentido naqueles momentos perdidos no frio.

De origem russa Bystro significa rápido. Paradoxal, o relógio abranda e um calmo silêncio apodera-se do momento. À frente passam caras afáveis, preocupadas, sorridentes, tristes, concentradas, perdidas. Ao lado são as noticias da semana, as cusquices do dia partilhadas pelas amigas sobre a refeição rápida. É a sobremesa divida à metade pelos namorados devotados a tudo comungar na cidade do amor, onde dúvidas se dissipam e onde o Sim é mais verdadeiro. São todos pequenos grandes mundos a desfilar diante de um Bistrô . Há todo um mundo a pulsar, há todo um mundo para ver... haverá sempre um lugar, um momento quente, confortável, só nosso, para viajar... sem pressa.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Noitadas

Ao passar na Rue do Ghana, olhe para cima do lado direito... no 4 andar vai ver a luz acesa.

Foi assim no ano passado, e assim está a ser de novo. Complicado fugir aos círculos da vida...

Mas o mais complicado mesmo... é não ter o raio de uma máquina de café por perto!

*como dá para ver, a loja continua a banhos...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Cebola

O cheiro a cebola nas mãos que carregamos no dia seguinte, parece-se por vezes como o perfume de outra mulher carregado na nossa camisa...

Todos o cheiram e sentem a traição de não terem comido aquele brilhante arroz de marisco!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sapatos

...negros, gastos, vincados. Cada marca neles foi um passo mal dado, um atropelo de um tacão, um enlace demasiado rápido que uma ponta solta arranhou. São uns ineptos com o seu tacão inverosímil de formato em cunha ao melhor estilo Noir da década de 50... não me perdoam o menor erro de hesitação no apoio. A sola vidrada não se adequa a qualquer pavimento e o couro amolecido há muito que já não abraça o pé com a mesma firmeza.

Praticamente dois anos sem sentirem o calor dentro deles. Frios esmorecidos quedavam-se pela prateleira onde apenas se ouvia o eco de tangos passados chorado dentro deles.
E no entanto... hoje ali estavam eles, velhos veteranos prontos a enxovalhar qualquer gaiato, ostentavam orgulhosos as suas marcas dissipando as dúvidas de que ali... ali dançava-se o Tango!

Voltar à milonga foi dificil... mas a isto volto depois. O que fica desta noite é que... hoje, naquele salão perdido na noite africana, os meus velhos sapatos... por momentos voltaram a ser Reis!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Crentes

Felizes os convidados para a ceia do senhor... e assim felizes efectivamente são.

Não faço disto conhecimento empírico ou teórico... é apenas pura percepção individual. A verdade é que fico sempre tomado de espanto pela bonomia e felicidade intrínseca que encontro em alguns jovens crentes. Respeito muito a fé, seja ela no que for... acredito que quem não tiver fé, não tem alma... mas a felicidade que encontro naqueles jovens que acreditam piamente na sua fé católica sugere-me que esta lhes proporciona uma ligação directa e simples à vida, isolando-os de todas as sombras que tolhem a humanidade. A forma como encontram satisfação nas pequenas coisas, nas mais imberbes e inacreditavelmente básicas coisas da vida... nunca deixa de me surpreender.

Claro está que tudo isto apenas se fixa no básico. Quando o mundo se complica... é toda uma outra historia.

Eu vivo confortavelmente no mundo complicado. Não lhes invejo aquela fé. Mas não deixa de me fascinar... e considero sinceramente que tenho sempre alguma coisa a aprender ali. Naquele sentir muito verdadeiro e puro.

Felizes assim o são, e feliz assim o sou.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Platinum

Seis meses a viver no ar oferecem-me hoje forçado ingresso no clube mais elitista dos ermitas dos céus. Eles deambulam entre os comuns mortais quase imperceptíveis. São os primeiros a sair, e por norma os últimos a entrar. São a razão de existir daquela porta, aquele corredor privado de acesso, aquele balcão ao lado que aparenta estar sempre inutilmente vazio com uma cara bonita à espera de alguém que há de chegar mas que quase nunca vemos. Quando surgem trazem na face a expressão do confortável aborrecimento de quem possui a propriedade daqueles espaços de transito sempre estranhos e desconhecidos a todos os comuns, os quais eles entediadamente toleram a existência. Passam rápidos como vultos familiares dos cantos da casa, denunciados apenas pelos lestos movimentos que exibem em cada passo do extenuante percurso aeroportuário, e pelos pequenos tags que trazem apensos às mochilas e pastas: silver, gold... paltinum. São estes os free-pass para a entrada no seu habitat natural... o sobre-mundo dos Business Lounges.

São cada vez mais, ocultados por insuspeitas escadas ou discretas portas opacas, os Lounges são o novo trend da sofisticação. Ocupam na religião destes ermitas o lugar de templos de refugio e meditação. São espaços replectos de futuristico design, lugares virtualmente out-of-this-world, recriações de uma realidade paralela, feita para isolar do mundo real. Espalhados pelo globo, qual seita de pequenas igrejas e grandes catedrais, garantem aos ermitas um local seguro onde sabem que vão encontrar resposta a todas as necessidades dos itinerantes. Oferecem pequenos apontamentos gastronómicos, a diversidade esperada de bebidas até ao sublime champagne, o fundamental acesso à Rede, e se for uma grande catedral... duches, chaise longues, meeting rooms, massagens... tudo providenciado free of charge por séquito de serventes disponíveis para realizar até a mais mundana tarefa do simples check-in. Isolados e espalhados pelo lounge, os ermitas meditam, comunicam, trabalham, descansam... É uma vida feita de jet-lag, heavy-duty luggage, ultra-portable computing, wrinkle-free clothing, sub-100ml liquids, free-shop shopping, extended battery life, video-chating, worlwide coverage... e omnipresente solidão.

Sou um descrente fiel desta Igreja sem deus, mas necessariamente um seu seguidor. O contador acaba de ultrapassar 120,000 milhas vividas na maior das turbulências... Em retrospectiva, estar perdido no ar foi seguramente preferivel a estar na terra a definhar.

Religião que se prese, propõe sempre a miragem da salvação. Por sorte esta é uma religião retorcida... que paga na terra os pecados no céu! Ao receber a imposição da Ordem de Platina pela minha sobrevivência... reflito que é chegado finalmente o tempo de começar a preparar um retiro de descanso desta guerra. E claro... sempre Flying Blue!



* hmmm... parece-me que a escolha está feita!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

30

- Viva! Como estás? (com aquela familiaridade de quem me viu ontem...)

- Bem... cada vez melhor!

- Sabes, fez há 15 dias... 30 anos que nos conhecemos todos...

E assim, pelo fresco da manhã, com duas frases apenas fazem-me sentir velho, cheio, rico, feliz...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Marrons

*Era tempo de ir buscar o meu Outono...

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

hop-off

Queixo-me mas ainda não consigo estar quieto... Bicicletas, queijos, vinho, restaurantes, civilização, frio, quente... descoberta e desconhecido. Alguma paz.

Domingo estou de volta.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Dinars

A campainha tocou e contaram-me a mais estranha história... daquelas que usualmente só acontecem a mim. A aparente solução eram 50 dinars, que eu providenciei com o sorriso do amante que sabe ser traído. E nunca mais voltou. Espero apenas que os tenha gasto em todos os vícios possíveis...

Diz o proverbial conhecimento que casa roubada trancas à porta. Desconheço se o sentido original era de uma simples constatação, mas é inegável a sentença implícita... da ingenuidade de não ter colocado as trancas antes de nos terem entrado na casa; do mundo não ser feito de portas abertas, de jardins sem muros e janelas sem grades; de amargurar-mos o assalto com o definhar atrás de trancas.

O idiótico roubo de algo insignificante é o suficiente para num segundo deitar por terra todo o capital de confiança enraizado bem dentro de nós. Conseguir desfazer o novelo deste medo é algo que leva muito tempo.

Mas um mundo de trancas... só serve a estroncadores de fechaduras. Uma vez mais não é saber viver no medo de não sermos assaltados. É tomar como adquirido que isso é uma inevitabilidade, mas que não se sabe viver preso por trancas.




segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Fidelis

Uma das relações mais duradouras da minha vida foi com o João. Encontrava-me com ele numa regularidade quase cósmica e sempre no mesmo sítio. Fui-lhe fiel durante anos a fio, negando-me entregar nas mãos de qualquer outra pessoa. Era ele que sabia como eu gostava, era másculo, decidido, pragmático, eficiente e eu sentia-me seguro com ele... o que convenhamos é algo precioso! Ele pela sua parte sentia-se igualmente confiante comigo, sabia o que eu gostava e sabia como me agradar. Era contudo uma relação desequilibrada... eu era apenas uma criança quando começamos, eu sabia que muitos outros amigos o procuravam e assim ele sabia mais sobre mim do que eu algum dia sobre ele. Sempre resisti às tentações de experimentar uma coisa nova, mesmo quando os amigos assim insistiam, a minha fidelidade estava ali alicerçada.

No entanto, não consigo ainda explicar o que aconteceu, se foi a monotonia ou algo se alterou bem dentro de mim mas, depois de muitos anos um dia decidi que era tempo de romper com o João. Num típico processo de traição e substituição, nunca mais o procurei e fui encontrar o Miguel... e com ele fiquei durante tantos outros anos. Eu já tinha ouvido falar do
Miguel, e efectivamente ele era tudo aquilo que o João não era. Feminino, delicado, preocupado, estilístico e criativo. Era sobretudo esta última parte que eu procurava. Procurava, ou antes, precisava. E aqui começo a compreender a necessidade de mudança que me assolava. A passagem dos anos modificou-me, ou eventualmente deixou crescer em mim outras vidas que lá estavam guardadas. A necessidade de rasgo, de extrapolar o que se guardava em mim levou-me a optar por me revestir de uma aparência diferente... construindo uma nova personalidade. É também no experimentar da primeira traição, que abrirmos a porta à relativização das relações... a partir dai sabemos o que é romper e mudar, que o mundo não acaba e seguimos a andar. Interiorizamos sobretudo o que é desapontar e magoar... a verdadeira consequência é que passamos a saber o que nos pode também acontecer.

Ainda assim, foi mais difícil deixar o Miguel... a mesma dinâmica de mudança impeliu-me para novos caminhos que introduziram uma distancia enorme entre nós e aos poucos fui forçado a ceder na relação. Durante largos meses ainda me mantive crente, celibatário e fiel. Empenhei-me e esforcei-me por conciliar na minha agora complicada agenda, pequenos regulares encontros efémeros a quando de uma viagem a casa. Contudo era apenas uma questão de tempo até que a distancia e a ausência levasse a melhor... Um dia, já em desespero de causa, acabei por procurar um outro no meio de uma cidade qualquer... do qual nem quis saber o nome. A experiência naturalmente correu mal, naquilo que se veio a revelar o inicio de uma sucessão de tantas outras más experiências... A total ausência de fidelidade raramente nos é compensatória. Ainda voltei às mãos do Miguel mais tarde por um punhado de vezes, mas a ruptura é agora efectiva. Simplesmente não vale a pena pensar que temos uma relação. Eu limitar-me-hei a visita-lo sempre que puder, num quase reencontro de velhos amantes que não fazem perguntas e limitam-se a retomar o calor da cama da noite anterior. Ele recebe-me sempre de sorriso largo e afectivo, e eu por momentos fecho os olhos e volto a descansar em mãos que sabem como o meu cabelo vai sair dali cortado naquele dia... mesmo que eu próprio o desconheça. É assim a confiança.

Ainda vi o João de passagem algumas vezes, mas evitava-o pois sentia que ele nunca iria compreender e perdoar aquela decisão, que ele certamente chamava de traição. Já o Miguel acolhe-me sempre perdulário, tentando corrigir e aprumar o corte que um qualquer carniceiro me ofereceu na ultima vez, nunca dizendo adeus. Os contornos da fidelidade são sempre obscuros. Compreender se quando decidimos mudar é em si uma infidelidade ou se a falta desta é apenas uma medida relativa do numero de vezes que mudamos... e quem decide que mudamos vezes de mais?... A fidelidade assume também diferentes formas, o que para uns é uma traição por simplesmente ter espreitado uma loja diferente, para outros é relativizado no essencial... a entrega pura que só conseguimos em algumas mãos. Parece-me sobretudo que a fidelidade depende essencialmente de começarmos por ser fiéis a nós.

Gatos&Cães

Ainda sobre os gatos e sobre os cães, explicam-me:

- Um cão ama-te incondicionalmente, é fiel... Venera-te! És tudo para ele! Um gato é mais independente.... Gosta de ti... Mas gosta mais dele!

Penso que eu não conseguiria colocar de melhor forma o porquê de eu ser um amante de felinos!...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Copos

É frequente encontrar em culturas orientais, que por sinal já andam nestas coisas de civilização organizada há muito mais tempo, a tradição de selar um negócio durante um jantar bem alcoolizado. Falta acrescentar que os negócios ali são invariavelmente coisas de homens. Do convívio do jantar e dos efeitos do álcool espera-se que as defesas e inibições caiam e assim surja uma verdadeira plataforma de verdade e entendimento... uma relação de confiança baseada no mutuo lucro e transparência... e quiça em algo um pouco mais profundo: cumplicidade.

Verdadeiras amizades não se forjam na agitação da noite. Confesso desconhecer como funciona do outro lado da barricada do Género, tal como em quase todas as coisas, mas tenho as minhas reservas que seja igual. Dito isto, tenho como verdade inabalável que uma noitada de copos entre homens é das experiências ligeiras que mais pode fazer para o fortalecimento de uma amizade masculina. O convívio mais básico que o descascar das inibições promove oferecer o contexto propicio para uma estranha ligação empática instintiva, onde os machos mais diferentes esfregam os seus egos uns nos outros e lhes eriça as penas para o cortejo noctívago. Naquelas breves horas tornam-se numa matilha unificada e cooperante no cortejo da caça, dão prontamente o corpo à luta ao menor sinal de agitação na defesa do parceiro inderrubável, são quasi-irmãos perdidos que afinal sempre se amaram, e trocam elogios inusitados na descoberta surpreendente do outro ser afinal a melhor pessoa do mundo... pelo menos até o sol vir trazer alguma sobriedade.

É precisamente quando o sol nasce, o alcool evapora e a cabeça pesa, que surge este elo. Enquanto todos os excesso se dissipam no chuveiro da memória, fica o laço apertado dos momentos compartilhados no desvario da noite... fica a certeza de uma cumplicidade que parte as barreiras do ego e deixa então a verdadeira amizade solta para poder crescer e frutificar.


*A próxima pago eu.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Gato


*E sem poder explicar melhor... Eu tenho um gato

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Again

Duas semanas, três continentes, quatro cidades e vários milhares de milhas. Serão tempos para rever recém conhecidos em novos cenários, despedir de bons amigos que partem para outros lados, e voltar às raízes para celebrar o amor, a amizade e a família. A tudo isto a seu tempo hei de voltar. Ou noutra perspectiva, prevejo muito tempo livre ao balcão da loja! E ofereceram-me musica para viajar...

domingo, 6 de setembro de 2009

Istambul


Fui sequestrado... por uma cidade. Desenvolvi não o síndrome de Estocolmo... mas de Istambul. Nunca nenhuma cidade me cativou tanto à chegada como esta. É um ser vivo que une 8 milhões de almas e pulsa com a força de milénios feitos da história que é também a minha. É notória a minha dificuldade em descrever tudo aquilo que me cativa, fico portanto pelos pequenos pormenores. No cenário que acolhe o ser tudo tem um pormenor, a começar logo pela arquitectura. A arquitectura monumental é singular. As mesquitas, os palácios e as casas aristocratas foram traçadas numa mescla única estonteante e só possível nesta encruzilhada. Em particular as construções do século XIX que trouxeram de Paris a raiz e o tronco e depois deixaram florescer as copas cheias de orientalidade. Todas tem um pormenor histórico que não poucas vezes moldou o que é a actual Europa. Para mim de início tudo parecia saído de um cenário cinematográfico de ficção cientifica, mas é precisamente o inverso pois foi aqui que muitos desses cineastas se vieram inspirar. Mas mesmo os vulgares edifícios, tanto novos como antigos, não são nunca básicos. Há sempre uma varanda, uma coluna, uma janela pouco natural, a escada em caracol, um pátio, uma vereda que envolve o prédio... mostrando que a natureza está ali sempre presente, desde as águas do canal que alimentam a cidade, até as árvores que com as suas copas tentam esconder os minaretes e cúpulas que despontam por toda a cidade como dedos apontados aos vários deuses que a governa(m)ram. Os prédios que encavalitam-se nas colinas num ziguezagueante desconcertado harmonioso feito de ruelas, vielas, avenidas, becos sem saída, praças, largos, pátios e os terraços... Ah, aqui pululam casas e prédios com um terraço com vista para a cidade. Nunca encontrei nenhuma cidade que vivesse tanto no último piso... sem contemporizações, tudo é aproveitado e modificado para que mesmo a mais obscura entrada para uma velha e sinuosa escada, acaba por revelar um magnifico rooftop para em sofisticação se poder estar confortavelmente a ver o cruzamento do mundo pulsar. Nada portanto é óbvio, e não fosse a referência visual do canal e a navegação pelas ruas exigiria sempre um mapa. E mesmo o canal, surpreende. Estou à espera de um rio, mas o azul profundo das suas águas que se movem livres de uma corrente desengana-me os olhos. Esta é a junção de dois mares que se intromete entre dois continentes, duas culturas... como dois amantes distintos, opostos, separados, mas intemporalmente ligados. A cidade surgiu e vive ainda pelo canal, onde a circulação de barco não é um mero arcaísmo... as casas, os hotéis e até as discotecas na margem recebem nos ancoradouros todos os aqueles que não passam pelas duas pontes. E é aqui que entra o turbilhão de gente. Muita. Esta é realmente uma metrópole Europeia, mas não há no velho continente nada que se lhe aproxime. Os números aqui estão presentes nas ruas, no transito, na água, na vida desordenada oriental que se move em cima de uma malha tentativa de organização ocidental. Este cruzamento, como incansavelmente lhe chamam, é feito de tudo com um nível cosmopolita que envergonha as grandes capitais europeias. E no entanto a sofisticação e até o vanguardismo anda de braço dado com o mais prosaico conservadorismo. Esta é uma cidade de todos... numa terra islâmica. Eu estou tomado pela cidade. Não falei ainda da luz, dos cheiros, das línguas, das culturas, das actividades... de tudo quanto ali está e que eu nem sequer conheço mais do que arranhei na superfície. No entanto conheço-lhe já os sinais, e alguma vivência... e ela conhece também já alguns apontamentos da minha vida.

*na falta de qualidade das minhas fotos, deixo uma tirada do google.


sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Cartago

Esta não é uma terra para se evitar o Turquesa...
*com o devido agradecimento a um bom olho

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

ISS

E hoje, aqui... lá em cima vai ser assim:

Com Carneiro bem no meio.

E no Porto vai ser assim. Logo, quando forem à Foz beber um Martini Bianco já bem no crepúsculo da noite, às 10 para as 11... olhem para o céu a sul, ela vai passar ali bem visível... se a senhora Lua toda cheia de si deixar!

Pé-ante-pé

Ficou decidido na reentré. E agora são 89 degraus, duas vezes por dia.
Surpreendo-me como cada vez parece mais rápido, e o coração cada vez bate mais lento.

E já agora... a descer também, trabalha-se outros grupos musculares...

*Colaterais, reduzo a minha carbon footprint! Se estiver com um eco mood pode calcular a sua pegada de carbono aqui

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Lilongwe

Desde o momento que sai do avião, não senti nada que não fosse uma serenidade envolvente...
Dizem-me que é fruto da colonização inglesa. É bem possível. A mim surge-me como o grande desafio à minha teoria sobre o lixo. Esta é uma terra limpa, aprumada, espaçada... vive-se de uma forma humilde e relativamente arrumada, e mesmo com todas as suas deficiências arrisco afirmar que aqui há boa qualidade de vida.

Chez-Netemba

A luz negra contra o fundo escuro denuncia o meu singular branco. Os corpos mexem-se em euforia ao som de ritmos estranhos. Na medida da entrega da multidão à musica, as hormonas fazem o suor escorrer pelas carnes... e chega o odor. Nunca senti nada assim. Viro-me, torço-me, tento escapar... mas vem de todo o lado envolve-me, ataca-me, entra-me pelas narinas para um grau de toxicidade alucinogenica há muito não sentido...

E foi assim que eu vi Cabral, Vasco, Bartolomeu, Diogo, Pêro, Afonso e todos os outros. Compreendi finalmente o sentido da miscigenação.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

HDI-162

A paisagem da África austral é arrebatadora. Seja no plateau norte, na parte montanhosa ou sobretudo nas regiões baixas do lago, a paisagem é sempre um horizonte de largas dimensões em que tudo preenche os sentidos de forma abastada. O inverno aqui é seco e frio... o que choca com o meu ideal de África sempre quente de mangas de camisa caqui e calções. Coisas de filmes e livros, como sempre.

O Malawi é um país genuíno que oferece uma África profunda, onde apenas lamento as queimadas da época que enchem o país com uma neblina baça que dissipa a luz e retira o contraste das cores vivas. Mas a maior surpresa foram mesmo as gentes... sempre agradáveis e acolhedoras, sem a agressividade e excessivo orgulho de outras paragens. No entanto a condição humana é incrivelmente dura. O Índice de Desenvolvimento Humano de 0,437 classifica o Malawi em 162º num total de 179 países. A população que vive esmagadormente em zonas rurais não tem acesso a água, luz e saneamento. Os progressos tem sido francamente bons, e nos últimos 5 anos o país cresceu tremendamente. No entanto, à medida que percorro o país vou pensando quantos anos demorará até os trazer a um nível de desenvolvimento que consideramos ocidentalmente aceitável. Décadas será por ventura um understatement...

Contudo o que mais me perturba é o equilíbrio com a Natureza exuberante que envolve todo este contexto. Numa Europa já completamente adulterada, com os seus parques naturais a servir de reservas de índios em extinção, a noção de equilíbrio ecológico está reduzida às normas legais e os procedimentos para que o impacto ambiental seja controlado ou minorado. No entanto, o Ambiente está impactado há muito tempo. Não há uma paisagem ainda intocada pelo homem. As áreas impermabilizadas crescem todos os dias e a Natureza desenvolve-se condicionada à actuação do homem.
Aqui é diferente. A Natureza está por todo o lado, viva e quase intocada. É isso que impressiona mais, pois não existe a expectativa de a ver martirizada. Ao olhar para esta paisagem tento visualizar como estaria ela se os níveis de desenvolvimento fossem os mesmos... a julgar pelo que assistimos na Índia, na China, no Brasil e em todos os países em rápido de desenvolvimento, o resultado seria nada abaixo de catastrófico. Mesmo considerando que podemos fornecer os métodos e as tecnologias que desenvolvemos a custo do ambiente durante estes últimos 200 anos (eólicas, solares, a reciclagem, eficiência energética e de consumo, produtividade, etc.) para proporcionar um salto qualitativo para um desenvolvimento sustentável... a simples pressão de uma sociedade estruturada (auto-estradas, barragens, parques eólicos, zonas residenciais, zonas industriais.... ) em cima desta paisagem era o suficiente para colocar tudo em risco.

Nestes momentos fica claro para mim que o caminho actual é completamente insustentável. Não sou um fanático, o modelo actual com todos os defeitos trouxe-nos até este ponto de desenvolvimento. Não estou a advogar voltarmos todos a uma existencia naturalista sem os beneficios da modernidade. Apenas que o conhecimento e a experiência acumulados até agora não deixam grande margem para dúvida sobre o futuro. Ou a dado momento existe um desenvolvimento tecnológico, ou deveria dizer, uma verdadeira revolução tecnológica que permita aliviar o nosso peso no planeta, ou então a Humanidade é realmente um vírus que vai acabar por exaurir a Terra.

Para já o trabalho aqui bem na terra continua. é preciso incrementar os HDI's...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Retiro



Quase sem internet, as vezes sem telefone.... e um lago infindável no meio de um continente. Retiro até domingo.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Miles

4 meses ao som de 70.000 milhas...



And here I go again... away with the sea...

domingo, 23 de agosto de 2009

Tay-Pan

Era o que mais corria da ninhada, em raides ultra-rápidos cruzava a sala do apartamento que tresandava a gatos e a cheiro de gatos.
- Tem um pouco de nariz... por isso faço-lhe um desconto.

A mim pareceu o mais bonito. Seria talvez um patinho feio potencial e eu podia muito bem estar a salva-lo de um mundo de discriminação e ostracismo... Pelo menos esta fantasia ajudou-me a ultrapassar aquele choque de pagar por uma vida de companhia. Eu queria ao meu lado vida, agitação, independência e pouco trabalho. Acabei por vir a correr todos os dias para casa para não o deixar entregue à solidão à qual eu também fugia. Foi como o amor, ou como eu imagino o amor. O primeiro choque da paixão e os exageros do costume. Depois com o tempo a paixão diminui e fica o amor... nos trabalhos que dá e nos momentos que partilha. E partilhou muita coisa. Foram 5 anos cheios sobe o seu olhar curioso, arrisco que as vezes preocupado, sem nunca proferir uma só palavra. No auge da sua idade, vejo-lhe os seus primeiros pelos brancos, certamente reflexos também dos meus que agora me recordam esta meia década...

Não quero saber dessas preconcepções dos gatos sobre as casas, ou a mão que lhe da de comer. Passou por 3 casas e ainda perde o seu apetite de cada vez que estou fora. Brinca com tudo e com todos os que vistiam, mas protesta comigo a cada regresso, quando na verdade só quer o meu carinho. Sai e desaparece para as suas voltas sendo que é o meu quarto que procura ao final de cada dia. Esta é toda a independência e partilha que peço. Eu gosto de felinos, compreendo-lhes o sentido e isso ajuda-me a aprecia-los. Voltarei a ter um cão, mas serei para sempre gato. Le chat Tay é assim mais do que nunca o Tay-Pan - o Senhor da Casa - já que casa para mim é agora invariavelmente onde ele está.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Compras

Estão 30 graus as 20h, e no entanto o frenesim à minha volta de pessoas a comprar compulsivamente, familias inteiras a preparar-se para a festa... faz-me lembrar o Natal!

Pagão

A minha visão ainda muito eurocentrica tem destas falácias... assumia que o paganismo é algo que apenas existe encavalitado ao cristianismo e em particular ao catolicismo. A grande ignorância face ao mundo islâmico levava-me a pensar que não haveria espaço para ritos pagãos num mundo que julgava erroneamente mais depurado de outras influências. É óbvio que não podia estar mais longe da verdade.

Durante aquela tarde tive direito a tudo: homens em transe e possuídos por espíritos, sacrifício de borregos que são esquartejados em público... e geral comoção pública das massas em delírio. Podia começar por dizer que todas estas religiões derivam da mesma raiz... mas é definitivamente a religiosidade (paganismo para alguns) que deriva realmente da natureza humana. A riqueza desta temática ultrapassa-me por completo, mas sobre isto das religiões voltarei mais tarde com a minha visão mais mundana... Entretanto segue dentro de momentos o Ramadão!

Aquele chapéu escondeu a face possuída por um espírito...

Forró

Não se tratava propriamente de desconhecimento. A minha quota parte de incursões pela noite africana do Porto já me tinha humildemente colocado a par da colossal decalage ritmica e sobretudo expressividade corporal. Mas hoje eu jogava em casa. Bom... era pelo menos casa de irmãos e julgava eu ter um ou dois trunfos. Pois sim... foi como diz o outro... quinze a zero, e o apanha bolas ainda foi la depois meter mais um golo!

Adivinham-se tempos difíceis debaixo das bolas de espelhos por este continente abaixo...


Adenda: ainda tenho a minha última trincheira... jogo tudo na pasion!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Man

Sobre o Tempo, a que voltarei mais tarde...

A man doesn’t have time in his life


A man doesn’t have time in his life
to have time for everything.
He doesn’t have seasons enough to have
a season for every purpose. Ecclesiastes
Was wrong about that.

A man needs to love and to hate at the same moment,
to laugh and cry with the same eyes,
with the same hands to throw stones and to gather them,
to make love in war and war in love.
And to hate and forgive and remember and forget,
to arrange and confuse, to eat and to digest
what history
takes years and years to do.

A man doesn’t have time.
When he loses he seeks, when he finds
he forgets, when he forgets he loves, when he loves
he begins to forget.

And his soul is seasoned, his soul
is very professional.
Only his body remains forever
an amateur. It tries and it misses,
gets muddled, doesn’t learn a thing,
drunk and blind in its pleasures
and its pains.

He will die as figs die in autumn,
Shriveled and full of himself and sweet,
the leaves growing dry on the ground,
the bare branches pointing to the place
where there’s time for everything.

Yehuda Amichai

Poeta Israelita, retirado daqui

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Calculados

Um Risco calculado é das coisas mais arriscadas que conheço. É que raramente temos moeda para as contas finais aos cálculos.

domingo, 16 de agosto de 2009

Engordar

Decidi engordar. Bom, o termo talvez seja antes avolumar. A ideia é sobretudo quando estiver de frente não parecer que estou de lado...

Em todo o caso é impressionante verificar que esta afirmação produza tamanha convulsão e até certa inveja. Não há novidades aqui sobre a cruel sociedade que vivemos. Ao mesmo tempo que nos são presenteados para consumo imediato todos os excessos possíveis que inevitavelmente levam as acumulação indesejadas, os cânones de beleza apontam para uma elegância impossível para o comum dos trabalhadores quotidianos que não tenha o tempo e a disponibilidade necessaria para um afincado cuidado com o corpo.

E no entanto, não sei se por culpa da DOVE, ou de uma sensação de mudança colectiva... não esperava ver a irritação de tantos que afinal continuam envolvidos neste combate dia-a-dia com a gordura. Julguei sinceramente que colectivamente estávamos menos histéricos com a magreza e um pouco mais em paz com a nossa silhueta colectiva. Sobretudo parece-me fundamental evidenciar que o combate não deve ser travado com a gordura, mas com o objectivo de atingir um equilibrio próprio pessoal de cada um. A gordura (ou já agora a falta dela) não é um problema, é um sintoma.

E fica aqui uma declaração de interesses: Eu sempre achei que gordura pode ser formosura!

Mas... continuando, e umas bolachinhas de chocolate não se arranja?

Eco

Um eco do calor, que veio desde o outro lado do atlântico.



E agora... a banhos, porque ainda está muito calor..

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Pulga

Passei anos em que por umas temporadas setembrinas submergia intensamente na vida campestre. Filtrada pela bonomia do olhar de criança a rudeza da vida do campo, numa altura em que a modernidade teimosamente se recusava a chegar àquela aldeia perdida num vale do Minho, funcionou como um bálsamo protector de alma que me manteve ligado à terra, ao campo e a meninice até hoje. A estes momentos que me são tão queridos, voltarei com mais tempo...
Mas foram também esses períodos que me expuseram à Natureza em todo o seu esplendor... e malefícios. Adicionalmente à animalada da quinta surgiam sempre as cobras, os lagartos, os sapos, os escaravelhos... tudo servia com objecto de brincadeira, e no processo vinham as lagartas pessonhentas, os piolhos, as lendias, os ferrões de abelha, as mordidelas de tudo e mais alguma cosia, enfim... deu para experimentar e ver quase tudo, num curso intensivo empírico de como lidar com estas pestinhas no futuro.

Enquanto me baixava para arrumar o cd, vejo um minúsculo ser a circular que me pareceu algo deslocado daquele cenário. Mas foi só quando ensaiei o seu esmagamento que ele me apanha de surpresa com o seu salto salvífico! Hmmm... aspecto asqueroso, minúsculo... e salta... é uma Pulga! Como é possível que se chegue a esta idade sem reconhecer uma pulga? Que falha no meu curso de formação foi esta?! E mais importante... que faço agora que tenho pulgas em casa?
É impressionante como anos de asséptica vivência urbana europeia quase me fizeram desaparecer a percepção do mundo real. As baratas, as pulgas, as formigas e demais bicharada foram erradicados do apartamento e da moradia de jardim de cimento que pululam a paisagem urbana. Restam os mosquitos, moscas e demais alados que mesmo assim já pouco podem contra os eficazes difusores electricos. Dito isto, eu não sou um amante de insectos, muito pelo contrário, e faço uso de todas as armas de destruição maciça nesta guerra. Mas esta é uma guerra colateral ao prazer de ter um jardim e viver em contacto com a Terra. E este é um preço que eu não me importo de pagar...

Nos TOR deste blog consta também a elaboração e registo de todas as notas possíveis para a preparação condigna da futura prole. Assim fica a nota no painel da Loja... que filho meu vai ter de saber identificar e aplicar técnicas de combate corpo-a-corpo com uma pulga, um piolho, uma carraça, uma barata e demais insectos mundanos, desde bem pequeno.

adenda aos amedrontados: a pulga foi finalmente esmagada e foram tomadas as devidas medidas sanitárias de desinfestação da casa.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Plaza

É provável que todos que ali entram tenham a mesma sensação de passar pelo buraco de Alice para um mundo completamente louco. Talvez sugerido por essa loucura, do meu imaginário cinematográfico saltou-me a ideia quando lá entrei a primeira vez, que poderia estar num bar da Saigão dos anos 60. Transmitir uma noção clara do espaço é quase impossível. O complexo hotel/restaurantes/discoteca é um genuíno e sentido hino ao kitsch, um crónico work in progress do orgulhoso proprietário André Backar, orfão que procurava o seu pai, que acabou perfilhado pelo American Dream. Com anos de labiríntico crescimento orgânico alimentado por uma acumulação dos mais improváveis ornamentos e adereços que André foi escolhendo pessoalmente, no Plaza é possivel encontrar palmeiras eléctricas, candelabros, lustres, candeeiros chineses, todo o inimaginável merchandising publicitário de bebidas, índios, neons, baloiços... uma parafernália que invade a visão e aniquila as referências. No final resulta um mundo estranho que serve o mais improvável cocktail de gente igualmente estranha. Descontando a ausência dos G.I.'s, a frequência é também ela própria do meu bar imaginário de Saigão. Estão lá todos... os ricos, os poderosos, os mafiosos (usualmente concomitantes) os estrangeiros, e as inevitáveis flores que vivem desta fauna. O ambiente camaliónico oferece o refúgio necessário aos foragidos dos minaretes, e por umas horas cada um tem ali o seu pequeno mundo imaginário. E é por isso que eu me sinto bem ali.

Poolview: particular atenção por favor às palmeiras eléctricas, aos candeeiros chineses e mais à esquerda alguns dos lustres, aos variados toldos e, claro, os nunca simpáticos garçons marujos...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sunflower

É com extremo pesar que venho atestar a morte prematura do ser verde, de seu nome Helianthus Annuus, que emergia de dentro de uma lata e procurava o Sol...

(aqui na foto, como foi vista pela última vez ainda com vida)

As conclusões da autópsia confirmam morte por ausência prolongada à exposição solar. Eventualmente, alguma carência de água pode ter contribuído... mas coisa pouca.


Informam-se todos os seus falimiares e amigos... que se procura substituto.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Costela

- Afinal, por muito que o negues, tens uma costela de esquerda...
- Agora que falas nisso, efectivamente tenho uma costela flutuante esquerda a desviar para fora...
- Talvez isso explique algumas coisas...

Eu sabia que devia ter corrigido cirurgicamente o raio da costela!

Calor

Alimentei durante anos a ideia de que a geografia mais apropriada para eu viver bem e em qualidade teria de possuir uma boa dose de calor. Mais em concreto um reconfortante calor seco. Não tenho pele para a humidade tropical, e mesmo quando procuro o cocktail servido com coqueiro e mar turquesa, tento evitar os trópicos.
Em particular a minha sedução desde pequeno foi o Mediterrâneo, numa traição atlântica inexplicável... Sonho com a terra quente, os jardins verdes com pedras amarelas, os ciprestes, as cigarras, o campo rasgado por caminhos sinuosos, a brisa morna, as árvores verdes no contraste do céu azul tórrido, as sombras fortes, os penhascos, as águas quentes, o branco dos barcos no azul profundo... e depois as vilas, com as cores garridas, as boganvilias exuberantes, o barro dos telhados, as janelas altas com portadas de ripas, as varandas, as ruas empedradas, as manhãs vibrantes, a letargia pós-almoço, as tardes tépidas, o crepúsculo no lado roxo do espectro, as noites confortáveis que se estendem até de madrugada. os portos com barcos de pesca... até mesmo as grandes cidades, com o movimento que só este clima permite, as esplanadas cheias, as praças agitadas, o temperamento das gentes, a culinária que satisfaz...
No meu subconsciente existia a reserva de que o motivo certo surgiria algures para me oferecer o meu Mediterrâneo no caminho.

Chego a casa envolto num calor tórrido, passo por baixo da boganvilia roxa, cruzo o jardim verde manchado pelas sombras fortes das oliveiras, pouso as malas e abro as portadas de ripas das janelas turquesa. Deixo entrar a luz e observo a paisagem...


Bom... acho que já estive mais longe! Agora só falta saber como passo para o outro lado...

Movimento

Por força da natureza pouco clara do objectivo do blog, convém avisar os potenciais leitores de que este é um blog em movimento. Portanto é possível que alguns escritos sejam posteriormente alterados. Prometo apenas não apagar. O que foi sentido e escrito fica lá. De outra forma não faria sentido manter um registo.
Mas está em aberto a possibilidade de que vá elaborar com mais profundidade algum assunto, ou acrescente nova perspectiva surgida de outra reflexão. E se por ventura mudar de ideias, pois o blog será o primeiro a saber.

domingo, 9 de agosto de 2009

Campeões

Michael Schumacher vai regressar à competição. As circunstâncias em que tal acontece são tristes e excepcionais. A Ferrari enfrentava algumas escolhas difíceis, mas isso per si não seria com certeza motivo suficiente para justificar o seu regresso. Michael S. é reconhecidamente um voraz competidor, ao ouvir os seus motivos para regressar fica claro na verdade que o Campeão crónicamente competitivo fraquejou e cedeu à tentação pessoal de voltar aos circuitos nem que seja por algumas corridas.

Há algumas semanas atrás era Lance Armstrong que regressava depois de um prolongado retiro. O lugar mais baixo no podium em Paris é uma proeza, mas... a Lance isso não o sacia. Afirma que para o ano estará novamente nas estradas de França para mais uma tentativa, sendo que já nem os seus mais fanáticos apoiantes acreditam que ele consiga chegar novamente ao primeiro lugar. Isso no entanto não o demove.

Com as devidas diferênças, ao regressarem à competição nenhum dos dois soube realizar o seu retiro definitivo. Pessoalmente tenho dificuldade em criticar esta atitude. É certo que prezo muito a dignidade e reconheço que saber parar no momento certo é fundamental. No entanto o caracter de determinação, a humildade em enfrentar a possibilidade de falhar, e o genuíno sentimento por aquilo que se faz, parecem-me ultrapassar largamente em dignidade tudo aquilo que foi alcançado pelo retiro do activo em momentos aureos das carreiras.

Ambos estes homens sabem que é impossível regressar à glória do passado. Eles simplesmente querem ir mais longe, com ou sem novas glórias, apenas por gosto, porque são assim, porque são campeões...

domingo, 2 de agosto de 2009

Brasileiros

Foi um serão rodeado de sotaque. Gosto de estar entre eles. Sabem receber e fazer sentir em casa. Há sempre alegria, informalidade, cultura, inteligência, o humor das piadas ao Português que são lançadas aqui com uma candura de fraternidade. A inevitável viola. Fortalecem-me a crença que um dia casa será também por lá. A energia é contagiante, mesmo quando grande parte do serão é embalado num coro de vozes que cantam amores não correspondidos, choram vidas perdidas ou corações mal tratados...

No final saio com a certeza que num tom e ritmo diferente, por muito que não queiram admitir, bem escondida no peito está a infecção do Fado lusitano.


sábado, 1 de agosto de 2009

CC

Por infelicidade fui introduzido às maravilhas do Cartão do Cidadão (não sei onde e quando foi que o cartão passou de "Único" a "Cidadão"... mas simplesmente livraram-se de boa...). É daquelas inovações sobre as quais tenho verdadeiros sentimentos contraditórios. Sendo eu completamente despistado e preguiçoso, a ideia de concentrar toda a burocracia num simples cartãozinho que fica bem guardado num espaço da (agora possível) minúscula carteira é absolutamente brilhante! Acresce ainda que um assumido geek só pode adorar o gadgetzinho que permite ligar o bicho ao computador, validando assim operações que de outra forma me obrigavam a morosas e extenuantes deslocações a repartições públicas. Estando no estrangeiro, isto é ainda mais precioso. O problema é o Sistema, a fobia ao Estado e ao controlo absoluto da nossa intimidade, para o qual vamos resvalando alegremente, seduzidos pelas vantagens da modernidade, amedrontados pelos perigos da actualidade...

Não é simples preconceito. Não interessa que até já podiam cruzar tudo e mais alguma coisa. A displicência com que vamos permitindo que se derrubem pequenas barreiras legais, vedações que nos protegem a intimidade, faz-me temer que estejamos a perder a noção de conceitos básicos à liberdade individual. A verdade é que troco grande parte das facilidades de tudo isto, por estar confortável que ninguém me vai andar a vasculhar a vida privada. Sobre isto, a violação de privacidade, a natureza do Estado, e outros que mais, voltarei mais tarde...

Por agora, surge-me apenas como natural que cada vez mais haja quem queira dizer... "Estou fora do mundo"!

Leite

- "And how many kids do you have?"
- "Me?! None! Actually I live by myself... why do you ask?"
- "Oh... sorry... I saw you getting in your house with a six pack of whole milk... and just assumed it!"

É incontornável, tenho de lidar com a minha inner child... já deixei de ter idade para beber leite gordo!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Sirene

Do aeroporto ao hotel, durante hora de ponta, em 13 minutos... em Luanda! Esqueçam lá os mordomos presidenciais, os jactos e outras coisas que tais... Nesta terra quem tem uma sirene é que manda!...

Espirro

Seis aeroportos em cinco dias, 14.000km de voo... e aterro no meio do Inverno, para apanhar a minha primeira constipação do ano! Maravilhas da aldeia global...

(actualização: sim, apontei para o cotovelo! eheheh)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Datas

Ocupa parte da minha parede um calendário. Está alinhado pela sequência de dias semanais na primeira coluna. Nas restantes 12 os meses oscilam verticalmente dessincronizados ao sabor do dia em que se iniciam. No ano de 2009 depois do que Gregório XII confirmou ter sido o ano em que Cristo nasceu, Agosto lidera isolado o topo da tabela, é o único que começa ao Sábado. Fevereiro, Março e Novembro surgem logo abaixo, iniciam-se ao Domingo. Dia 25 de Dezembro vai ser uma Sexta e o ano propriamente dito começou numa Quinta. O dia 1 de Abril foi numa Quarta-feira, mas há 34 anos atrás… pregaram-se mentiras numa Terça-Feira, o que por si só já o torna num dia diferente do de 2009, quanto mais não fosse porque toda a gente sabe que a Terça-Feira é o dia mais depressivo da semana… portanto um bom dia para pregar umas mentirolas!
Naturalmente o calendário necessita de ser ajustado de acordo com o ciclo solar, e por isso todos aqueles que têm como data marcante o 29 de Fevereiro vêem-se privados de a celebrar anualmente, simplesmente cessa de existir esse dia, essa “data”… Marcamos datas como forma de assinalar um momento passado no tempo. A artificialidade do calendário, o logro em assinalar o preciso momento em que a terra estava posicionada no espaço sideral em relação ao sol num determinado ciclo solar do passado, não afecta a vontade legitima de nesse dia ser recordado um facto marcante da nossa vida. Há contudo uma sub-reptícia tentação de recuar e sentir novamente aquele dia, aquela data, de repetir aquilo que é reconhecidamente irrepetível! A passagem pelo calendário de mais aquela data, não permite viver, nem mesmo sentir, o que foi o passado… a cada data recriam-se os sentidos, a memória, a vivência, sendo no entanto o que nós revisitamos apenas um reflexo possível do passado.
Adicionalmente a vida no seu percurso consegue ainda complicar-nos as datas. O momento que prezamos celebrar na memória, não poucas vezes converte-se naquele que não mais queremos lembrar. Os mais sarcásticos exercem alguma prudência no conciliar de certas datas com motivos de celebração. "Não casar no dia das mentiras ou no dia de aniversário, ou nos dois!" sugerem-me como simples bom senso, não vá a vida trocar-nos as voltas!
Em conclusão… as Datas não passam de pequenos apontamentos que criamos num calendário para nos fazer recordar de algo, que na generalidade das vezes durante o resto do ciclo solar não nos lembramos. Artifícios para mentes e corações que perdem a memória no tempo da vida… Podemos ser arreigados ao simbolismo que as datas nos oferecem, a uma certa construção romântica clássica que procura um enquadramento de sentido no curso do tempo. Porém que não sirva de desculpa para nos guardarmos de viver à espera de datas ideais para mais tarde recordar ou repetir. Demorei muito tempo para abrir este blog, por vezes à espera da data, do momento ideal. Hoje simplesmente decidi abrir.

Às Datas hei de voltar…
Google Analytics Alternative