domingo, 23 de agosto de 2009

Tay-Pan

Era o que mais corria da ninhada, em raides ultra-rápidos cruzava a sala do apartamento que tresandava a gatos e a cheiro de gatos.
- Tem um pouco de nariz... por isso faço-lhe um desconto.

A mim pareceu o mais bonito. Seria talvez um patinho feio potencial e eu podia muito bem estar a salva-lo de um mundo de discriminação e ostracismo... Pelo menos esta fantasia ajudou-me a ultrapassar aquele choque de pagar por uma vida de companhia. Eu queria ao meu lado vida, agitação, independência e pouco trabalho. Acabei por vir a correr todos os dias para casa para não o deixar entregue à solidão à qual eu também fugia. Foi como o amor, ou como eu imagino o amor. O primeiro choque da paixão e os exageros do costume. Depois com o tempo a paixão diminui e fica o amor... nos trabalhos que dá e nos momentos que partilha. E partilhou muita coisa. Foram 5 anos cheios sobe o seu olhar curioso, arrisco que as vezes preocupado, sem nunca proferir uma só palavra. No auge da sua idade, vejo-lhe os seus primeiros pelos brancos, certamente reflexos também dos meus que agora me recordam esta meia década...

Não quero saber dessas preconcepções dos gatos sobre as casas, ou a mão que lhe da de comer. Passou por 3 casas e ainda perde o seu apetite de cada vez que estou fora. Brinca com tudo e com todos os que vistiam, mas protesta comigo a cada regresso, quando na verdade só quer o meu carinho. Sai e desaparece para as suas voltas sendo que é o meu quarto que procura ao final de cada dia. Esta é toda a independência e partilha que peço. Eu gosto de felinos, compreendo-lhes o sentido e isso ajuda-me a aprecia-los. Voltarei a ter um cão, mas serei para sempre gato. Le chat Tay é assim mais do que nunca o Tay-Pan - o Senhor da Casa - já que casa para mim é agora invariavelmente onde ele está.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Google Analytics Alternative