sexta-feira, 23 de abril de 2010

Luanda

Carta Aberta sobre Luanda, para memória futura.

Começo com um disclaimer. Eu não conheço Angola. Inclusive sinto-me pouco habilitado para afirmar que conheço muito bem Luanda por comparação a quem lá vive. Por motivos profissionais eu visito com alguma regularidade Luanda desde 2008 e é possível que 'tenha' de aí vir a viver.

Muito se fala sobre Angola. O que posso dizer é que na verdade, poucas foram as opiniões que eu ouvi e que depois de lá ir considerei equilibradas. Aquela terra é feita de fortes contrastes e isso provoca reacções intensas nas pessoas. Tudo fica no patamar amor ou ódio.

Alguns surgem como encadeados pelo sol, outros não descortinam nem uma pequena luz na escuridão imensa. Na verdade o sorriso das pessoas depende muito do que elas estão ali a fazer, de como vieram lá parar e em que condições vivem ali. Não quer isto dizer que quem tenha excelentes condições goste, ou o inverso, que quem vive em relativas más condições não goste. O que significa é que cada um encontra em Luanda um pouco o reflexo do que traz consigo e daquilo que pretende da vida.

À pergunta como se está em Angola, eu começo por responder com a análise tal como a fiz para mim. A minha visão é muito pragmática, a começar pelo o que é a vivencia quotidiana. Esta é uma terra difícil. Tudo é difícil. Desde os aspectos mais simples e práticos da vida, até à psique e a espiritualidade. Alias para mim aqui há duas palavras constantes… “difícil” e “paciência”.

Viver em Luanda sem uma lifenet bem montada é um pavor. Se não estiveres prevenido, Luanda agride-te displicentemente e com facilidade sucumbes ao seu pulsar. É assim que alguns não aguentam os três primeiros meses. O nível básico da pirâmide da Maslow, mesmo para os abastados, é aqui um desafio! Comer… dormir… abrigo…deslocar de A a B são tarefas complexas se não existir uma estrutura bem implementada e dinheiro. Mas mesmo tendo dinheiro, nada é garantido.

Se há uma coisa que viver fora me ensinou foi a importância preponderante que uma boa casa representa na nossa experiencia de vida. Onde quer que se viva, é necessário possuir uma boa casa, mas isto é particularmente importante se viver fora do nosso contexto. Por “boa” entende-se um espaço onde seja possível nos sentirmos bem, confortáveis e onde seja possível recuar e recolher para retemperar, reflectir, proteger. Aqui encontrar um espaço desses é difícil. Ultrapassada a questão dos preços astronómicos (uma renda de um apartamento com padrões europeus de qualidade no centro pode rondar cerca de 15k euros mês ou mais) e da fraca oferta existente, os trade-offs com que nos defrontamos são imensos. Ou é perto do centro e assim evitasse o transito infernal, e nesse caso será at best um apartamento bom mas pequeno, ou então uma casa velha, que vai ser remodelada, mas que a qualquer momento a sanita pode rebentar e inundar a casa com esgotos porque a canalização é velha e o esgoto da rua entupiu, ou então procurar uma vivenda fora da cidade com tudo novo e funcional, jardim e piscina, com padrões europeus e naturalmente mais barata que os apartamentos no centro… mas depois ter de passar 2 horas para fazer 10km até ao centro da cidade. Muitos são os que saem de casa as 0600h para não apanhar tanto transito! Em qualquer dos casos… terá sempre de existir um gerador eléctrico porque a electricidade falha! O serviço de água por vezes falha também. A qualidade de construção é fraca. O recheio ou se traz do pais de origem e esperasse meses para desalfandegar ou paga-se preços proibitivos, como US$200k para mobilar uma casa T3. E mais uma vez… a oferta não é muita. O mesmo se aplica a tudo que são bens de consumo. Há o que há, e mesmo o que há… nem sempre está disponível!. O certo é que se paga sempre preços absurdos.

O transito, que já é lendário, é um dos factores mais perturbadores. Quando se fala em trânsito a um europeu, ele reconhece o problema, sabe que é um fenómeno que afecta a vida das pessoas, mas está longe de compreender os reais impactos de uma cidade que vive num constante congestionamento. Estar 1 hora para atravessar a cidade é normal. Aqui se as coisas correm mesmo mal, é possível estar essa 1 hora, sem sair do mesmo sitio! Isto significa que o conceito de liberdade é fortemente amordaçado. Porque não existe liberdade para se movimentar. Estamos literalmente presos. As reuniões, raramente mais do que uma por meio dia porque não dá tempo, os encontros de amigos, as compras, nada nesta cidade é feito de forma espontânea. Tudo envolve planear e grande esforço para deslocar. Os carros são preferencialmente com mudanças automáticas, mesmo os mais pequenos, porque o esforço de estar a carregar na embraiagem é extenuante para o condutor. Portanto a liberdade de movimento, que é seguramente uma das mais importantes liberdades, aqui está constrangida. E mesmo quando realmente chega-se onde se quer…usualmente não há onde parar o carro! Ou seja, ou possuímos motorista que assim leva o carro e vai estacionar sabe lá deus onde, ou então… bom… não se vai! Falta acrescentar que, num pais onde o petróleo representa 50% do PIB, a gasolina é importada e as filas de abastecimento não poucas vezes atingem 1hora! Curiosamente é exactamente o mesmo na Nigéria. Há filas para abastecer ás 2300h... porque as pessoas tentam ir a essa hora porque demora menos!

Para complicar a questão, por algum motivo que até agora ninguém me conseguiu propriamente explicar, não há táxis em Luanda. Ou seja… ou se tem um carro, ou então… não se vai a lado nenhum! Isto é simplesmente assim. Não se sai. Fica-se em casa. Novamente preso. Enfim, não será tanto assim se formos minimamente aventureiros e estivermos na disposição de apanhar boleia ou pagar a simples condutores para nos levarem até onde queremos. No entanto, não é propriamente espectável sair com alguém para jantar no novo restaurante da cidade, e no final pedir boleia na berma da estrada… Desde o CAN, que foi agora em Janeiro, aparentemente já passaram a existir táxis oficiais, mas confesso que ainda não consegui apanhar ou mesmo ver algum!

A comida será um dos aspectos que ninguém se pode queixar em Luanda. Come-se bem em Angola. A gastronomia é interessante e cozinham bem. Claro está que… hoje num hotel paga-se US$72 por um bife e coca-cola! Esta ordem de preços é generalizada a todos os serviços. Um almoço numa lanchonete, um bonito termo brasileiro, mas que julgo ilustrativo do tipo de restaurante, custa em geral US$45. Claro que é possível comer num boteco qualquer, mas ai correm-se os riscos usuais… mesmo assim ainda há pouco tempo vários foram os que apanharam uma intoxicação alimentar numa recepção oficial de uma embaixada. Por ingredientes de qualidade, ou produtos normais internacionais, pagam-se preços inacreditáveis. Uma boa alface num supermercado mais caro e de qualidade pode custar US$20. Recordo-me que fiz contas quanto me ficaria ir jantar fora uma vez por semana em casal. Ao final de um mês seriam entre US$400-500. Portanto… até a comida pode significar um desafio.

De tudo isto se depreende que não tenho ilusões sobre esta terra. Falta dizer que… isto está muito melhor! Desde 2008… vi francos progressos. E se tudo o que atrás foi dito é verdadeiro, na realidade a cada visita que faço sinto que está sempre um pouco melhor.

Em resumo, estamos no primeiro patamar das necessidades, e… a situação, no mínimo, não é sedutora. Mas assumindo que entretanto sempre se conseguiu montar a uma lifenet, arranjar uma casa decente, carro próprio, ganhar o suficiente para não se estar propriamente limitado na vida quotidiana… o que se vai encontrar nos restantes patamares? O que oferece Luanda?

A partir deste ponto a experiencia de Luanda altera-se profundamente. Contudo, a vivência vai depender do tipo de vida que se opta e no fundo da personalidade e do que se procura. Angola é uma terra aberta, tem alma, tem vida… há uma atmosfera de esperança e por momentos devolvem o horizonte que na Europa parece perdido. O chamamento de África é real, e cativa quem o sente. Existe depois a ligação a Portugal que é efectiva. Prevalece uma proximidade muito grande com as gentes e com a terra. Existe um forte legado Português e é fácil cair na tentação de sentir que esta terra é também um pouco nossa. Isto pode ser bastante prejudicial, mas não me vou estender para já sobre esta parte. O clima, para pessoas que gostem de calor e suportem humidade, é bom… e viver sem ter nunca de usar uma camisola incute um espírito de liberdade e omnipresente bem estar. Apenas os mais vaidosos se vão queixar de não ter oportunidades para vestir roupas mais elaboradas!

E se roupa elaborada não é propriamente uma preocupação, pelo contrário, não ter uma oferta cultural mínima é estupidificante! De inicio não nos apercebemos, até achamos que não é de todo impossível viver sem isso. A cada saída do país compra-se as revistas que vão relembrar de tudo aquilo que deixamos para trás e senti-mo-nos “por dentro”. Depois com o passar do tempo começamos a perceber as exposições que não vimos, os concertos que não assistimos, as novidades e os trends que saíram e nem sentiste. Claro que África também altera a nossa percepção de prioridades. Certas coisas tendem a perder importância. Talvez de uma determinada forma re-ganha-se uma ligação mais primária à terra e à vida… mas convém que se mantenha a janela virtual da internet sempre aberta para pelo menos pedir à Amazon que envie as ultimas novidades literárias! Claro está que… correios aqui são outro pesadelo!

Existe mais um factor que me parece bastante importante referir. Aqui somos excepcionais. Mesmo considerando o número desmesurado de Portugueses que estão aqui a viver… aqui somos brancos, somos “mais”… e isso, ainda que se resista… é subtilmente intoxicante. Sei por experiencia própria. Viver em países onde te destacas confere-te um estatuto inato. Uma diferenciação que é transversal aos diversos aspectos da tua pessoa e omnipresente em todos os teus actos. Mesmo que se tente combater isto, o sistema, a cultura, as próprias pessoas, para bem e para mal, vão nos lembrar disso. Usualmente… é para bem, o que significa que aqui, ou noutros locais do género, nos senti-mo-nos especiais…

Mas seguindo em frente… e porque até agora não falei de como se vive realmente por aqui, vou ficcionar um pouco o que é viver em Luanda baseado em episódios e observações do meu quotidiano:

A Catarina vive no compound privado que o banco arranjou ao marido que é director delegado aqui em Luanda. Lá tem duas empregadas que ajudam com os miúdos e um jardim com piscina. Tudo é calmo e pacífico. Nada daqueles afazeres domésticos chatos que tiram metade das horas livres que assim são gastas por inteiro com a família. Com sorte tem até um emprego que lhe dá uma sensação de utilidade, mas na verdade é pela família que ela está aqui. A segurança dentro dos muros é garantida e mesmo nas deslocações pela zona sul de Luanda não há problemas. Ocasionalmente uma festa fora, mas em geral é o BBQ com os amigos a escolha de preferência. Os amigos esses, são sempre também do banco ou das petrolíferas, que têm os dois compounds ao lado. Dá-se muito bem também com um dos administradores de uma construtora conhecida Portuguesa. Na verdade aqui ela é elite, e convive com a nata dos gestores, empresários e demais expatriados. Muitos deles tem bonitas historias de vida e certamente que as conversas na sombra dos jacarandás serão sempre mais interessantes do que as que tinha em Portugal. Claro que não faz propriamente passeios com os filhos pela praia, ou consegue ir as compras com as amigas, ou tirar aquele curso de dança ou pintura que gostaria, e depois Portugal está realmente longe… as saudades são muitas. Incentivou um clube de leitura onde se reúne com outras mulheres semanalmente para debater um livro e assim tentar alimentar a cabeça. Por fim vive no pânico do marido a largar um dia destes por uma daquelas negras esbeltas, as quais ela tantas vezes apanha a olharem babadas para o seu marido, que constrangido tenta disfarçar para não a preocupar. Ele sabe como elas são agressivas, e de tudo faz para passar incólume e viver em paz. A vida aqui é também para ele seguramente menos stressante e bastante boa. Ela tem pena da pobreza que vê por todo o lado e que contrasta com a insular opulência do luxo onde vive. Fica de lágrimas nos olhos quando ve aqueles miúdos amorosos mas sujos e todos rotos que vão atrás do carro a brincar quando ela passa pelo meio dos bairros a caminho de casa. Ainda assim… esta é uma terra nova e cheia de potencial, e tanto ela como ele são bem capazes de ficar cá para sempre!

O Rodrigo vive num pequeno mas bom apartamento ao estilo europeu no centro da cidade. Chegar ao escritório, que é também no centro, demora apenas 30 minutos com o motorista. No entanto é raro sair com tempo para aproveitar alguma coisa. Trabalha muito e sai tarde, pois também não tem ninguém em casa para o receber. Está cá sozinho. Tem uma empregada que lhe trata da casa, e ocasionalmente faz as compras e cozinha. Não é casado, mas também não se iludiu com o apelo do ébano. Sabe bem os problemas que pode ter, e depois… na verdade a maioria das locais só se interessam por ele ser branco e “rico”. As poucas locais que ele conhece e que lhe podiam interessar, estão noutro nível estratosférico onde ele apenas ocasionalmente tem acesso. Veio para avançar na carreira e porque o dinheiro é aliciante. Tem a esperança que acabado o período de 3 anos aqui, possa mudar para algo novo, diferente melhor… e é também essa a esperança que os administradores lhe incutem. Aqui ele tem acesso directo a eles, eles percebem melhor o resultado do seu trabalho. O mercado é muito difícil e tudo está por fazer. Ao mesmo tempo é uma experiencia de trabalho interessante muito valiosa. Quando sair daqui… será um profissional maduro, não mais um jovem sem provas dadas. Alguns fins de tarde ainda consegue ir beber um copo com os amigos, mas é nos restaurantes de referência e nos clubs do costume que o dinheiro é gasto aos fds. Também costuma ir com um grupo de outros solteiros e alguns casados para umas praias engraçadas aos fds. Mas na verdade, não viaja muito porque o interior não é muito seguro e os hotéis são rascas. As férias e as licenças de recuperação são usualmente passadas em Portugal, onde mata saudades da família, amigos.. e deslumbra com a sua vida expatriada.

Tudo isto é bastante diferente do seu amigo Ricardo, o qual veio cá pela aventura. O tecto salarial da ONG não lhe permite ter o apartamento “europeu” igual ao do Rodrigo, e assim tem um pequeno mas razoavelmente arranjado apartamento também no centro de Luanda, o que lhe rende 30 minutos até ao escritório no carro velho que arranjou, que com sorte consegue estacionar perto. Apenas que o apartamento fica no 7 andar de um prédio dos anos 70 e o elevador raramente funciona. Isto é sobretudo aborrecido nas alturas que tem de levar as compras pelo prédio acima. Serve de exercício embora ele vá com regularidade ao ginásio para exercitar. Algumas vezes já se aventurou a fazer jogging à noite, mas esse é todo o exercício que lhe é permitido de forma espontânea, pois andar de bicicleta ou roller-blades como fazia nos EUA onde tirou o curso é completamente impossível. Foi também no ginásio onde conheceu o Rodrigo, que depois encontrou várias vezes nos sítios do costume, com as pessoas do costume. Acabou por ter sorte e conseguiu fugir do restrito e claustrofóbico circuito português e arranjou um eclético grupo de amigos expat estrangeiros com quem usualmente se encontra em festas privadas e faz fds de campismo e algum surf… mas há sempre que ter cuidado para tentar não ter um acidente sério, ou apanhar uma zona com minas… afinal os serviços médicos em Angola não são ainda de confiar para problemas “sérios”, que em ultimo caso obrigam a evacuar para a Africa do Sul. Claro que… se o acidente for naquela estrada congestionada que ele faz sempre à noite ao domingo quando se demora 2 hora par regressar a Luanda, não haverá ambulância e helicóptero que chegará a tempo. Aproveita os fds para viajar pelo interior do pais, ver o que ele tem para oferecer de natureza ainda pouco explorada. Não há propriamente muitos animais nos poucos parques naturais que estão a ser criados porque na guerra foram todos mortos para alimentar os exércitos beligerantes, mas há todo um mundo de bonitas paisagens para ver. Já foi também ver os gorilas no Congo e as maiores dunas do mundo na inesquecível Namíbia. A internet é a sua janela, embora as vezes falhe, e assim vai mantendo o contacto com o mundo. Também tem já um grupo de amigos Angolanos, todos eles jovens quadros ou trabalhadores das ONG e está contente com os projectos e o trabalho que desenvolve. Embora aqui as coisas nestas áreas acontecem muito devagar e pode gerar alguma frustração. As férias que tira são para ir ver outros amigos em partes diferentes do globo. Sente falta da vida cultural que tinha em NY, onde por acaso foi assaltado por 2 vezes, tantas como aqui em Luanda, mas sabe que para já não é muito importantes estes aspectos culturais. Assim como arranjar uma mulher. Sente que ainda é novo demais para isso e sabe que não quer sacrificar a liberdade de puder sair daqui para onde quiser... sem olhar para trás.

Bastante contrastante da Carla, que é engenheira e veio para aqui trabalhar para uma grande empresa de construção. Passa grande parte do tempo na obra, num clima duro feito de homens negros e chineses. Todos os dias quando regressa a casa, um apartamento num prédio velho que a empresa lhe recuperou e que por dentro até podia ser um T2 novo em Loures, senta-se no sofá e bebe uma ou duas cervejas. Reflecte bem o que está ali a fazer, e acaba sempre por decidir viver um dia de cada vez. Sabe que é um sacrifício que pode compensar na carreira, embora não tenha nada seguro que vai voltar para um posto melhor do que o que deixou. Tenta sempre ir aos restaurantes mais populares mas decentes onde as refeições só custam US$25 e assim vai acumulando um bom pé de meia. Já tem alguns amigos locais que lhe mostram uma outra vida de Luanda. Aprendeu a dançar kizomba, goza entre amigos as últimas músicas dos cantores locais, sabe cozinhar pratos angolanos e já apanhou malária quando esteve 3 meses numa obra no Huambo. As vezes durante a noite ainda acorda a pensar naquela vez em que por um acidente e estupidez do chefe de obra, os trabalhadores negros se revoltaram e começaram a espancar os “pulas”. Ela por sorte conseguiu fechar-se dentro de um contentor e fugir mais tarde. Não teve tanta sorte perto de casa, onde já foi assaltada duas vezes com uma faca e também já encontrou o carro roubado uma vez. Cresceu como mulher. Mas o relógio não para, e agora que o namorado de 1 ano que tinha aqui foi embora de regresso para Portugal e eles acabaram, ela só pensa no final da comissão e poder também finalmente voltar… adormece secretamente a sonhar na reconciliação e numa vida calma em Lisboa.

O Rui veio para Angola para abrir uma filial da empresa do pai. O negócio dos alumínios no norte de Portugal estava a estagnar com a crise na construção, e todos “sabem” que é em Angola que se faz dinheiro. Inicialmente as coisas não correram muito bem. O ambiente é hostil, ainda para mais para Portugueses que chegam cá iludidos com o el dourado. Cedo percebeu os custos de instalação exorbitantes de um negócio em Luanda. Mais à frente compreendeu os hidden costs das “gasoas” e restantes subornos que vão oleando a máquina comercial em Angola. Demorou até ele conseguir encontrar as pessoas chave na alfandega e no governo, que ele lentamente e com uma habilidade que nem ele sabia possuir, começou a subornar. Agora tudo corre a velocidade de cruzeiro e na verdade… é Angola que está a salvar o negócio da família. O Rui tem uma casa que recuperou no centro de Luanda. Tem também uma boa rede de amigos portugueses que, tal como ele, vieram cá para fazer fortuna. Usualmente os fds são passados em deboche incontáveis de álcool e mulheres. A mulher em Portugal desconfia que nem tudo são rosas, ou ouro… mas não quer vir viver para o meio da poluição e esterqueira que abunda por Luanda. Tem medo dos assaltos e prefere a segurança da pacata Guimarães…

Nenhuma destas pessoas existe. Contudo, alguns destes episódios são verdadeiros. Isto obviamente não é uma imagem completa. Existe muitas outras vidas que podia aqui colocar, mas que para o caso não me parecem muito importantes.

No fim disto tudo... sei qual pode ser a vida que podia ter em Luanda.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

35






























Hoje é o teu dia.
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