segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Calor

Alimentei durante anos a ideia de que a geografia mais apropriada para eu viver bem e em qualidade teria de possuir uma boa dose de calor. Mais em concreto um reconfortante calor seco. Não tenho pele para a humidade tropical, e mesmo quando procuro o cocktail servido com coqueiro e mar turquesa, tento evitar os trópicos.
Em particular a minha sedução desde pequeno foi o Mediterrâneo, numa traição atlântica inexplicável... Sonho com a terra quente, os jardins verdes com pedras amarelas, os ciprestes, as cigarras, o campo rasgado por caminhos sinuosos, a brisa morna, as árvores verdes no contraste do céu azul tórrido, as sombras fortes, os penhascos, as águas quentes, o branco dos barcos no azul profundo... e depois as vilas, com as cores garridas, as boganvilias exuberantes, o barro dos telhados, as janelas altas com portadas de ripas, as varandas, as ruas empedradas, as manhãs vibrantes, a letargia pós-almoço, as tardes tépidas, o crepúsculo no lado roxo do espectro, as noites confortáveis que se estendem até de madrugada. os portos com barcos de pesca... até mesmo as grandes cidades, com o movimento que só este clima permite, as esplanadas cheias, as praças agitadas, o temperamento das gentes, a culinária que satisfaz...
No meu subconsciente existia a reserva de que o motivo certo surgiria algures para me oferecer o meu Mediterrâneo no caminho.

Chego a casa envolto num calor tórrido, passo por baixo da boganvilia roxa, cruzo o jardim verde manchado pelas sombras fortes das oliveiras, pouso as malas e abro as portadas de ripas das janelas turquesa. Deixo entrar a luz e observo a paisagem...


Bom... acho que já estive mais longe! Agora só falta saber como passo para o outro lado...

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