segunda-feira, 31 de agosto de 2009

HDI-162

A paisagem da África austral é arrebatadora. Seja no plateau norte, na parte montanhosa ou sobretudo nas regiões baixas do lago, a paisagem é sempre um horizonte de largas dimensões em que tudo preenche os sentidos de forma abastada. O inverno aqui é seco e frio... o que choca com o meu ideal de África sempre quente de mangas de camisa caqui e calções. Coisas de filmes e livros, como sempre.

O Malawi é um país genuíno que oferece uma África profunda, onde apenas lamento as queimadas da época que enchem o país com uma neblina baça que dissipa a luz e retira o contraste das cores vivas. Mas a maior surpresa foram mesmo as gentes... sempre agradáveis e acolhedoras, sem a agressividade e excessivo orgulho de outras paragens. No entanto a condição humana é incrivelmente dura. O Índice de Desenvolvimento Humano de 0,437 classifica o Malawi em 162º num total de 179 países. A população que vive esmagadormente em zonas rurais não tem acesso a água, luz e saneamento. Os progressos tem sido francamente bons, e nos últimos 5 anos o país cresceu tremendamente. No entanto, à medida que percorro o país vou pensando quantos anos demorará até os trazer a um nível de desenvolvimento que consideramos ocidentalmente aceitável. Décadas será por ventura um understatement...

Contudo o que mais me perturba é o equilíbrio com a Natureza exuberante que envolve todo este contexto. Numa Europa já completamente adulterada, com os seus parques naturais a servir de reservas de índios em extinção, a noção de equilíbrio ecológico está reduzida às normas legais e os procedimentos para que o impacto ambiental seja controlado ou minorado. No entanto, o Ambiente está impactado há muito tempo. Não há uma paisagem ainda intocada pelo homem. As áreas impermabilizadas crescem todos os dias e a Natureza desenvolve-se condicionada à actuação do homem.
Aqui é diferente. A Natureza está por todo o lado, viva e quase intocada. É isso que impressiona mais, pois não existe a expectativa de a ver martirizada. Ao olhar para esta paisagem tento visualizar como estaria ela se os níveis de desenvolvimento fossem os mesmos... a julgar pelo que assistimos na Índia, na China, no Brasil e em todos os países em rápido de desenvolvimento, o resultado seria nada abaixo de catastrófico. Mesmo considerando que podemos fornecer os métodos e as tecnologias que desenvolvemos a custo do ambiente durante estes últimos 200 anos (eólicas, solares, a reciclagem, eficiência energética e de consumo, produtividade, etc.) para proporcionar um salto qualitativo para um desenvolvimento sustentável... a simples pressão de uma sociedade estruturada (auto-estradas, barragens, parques eólicos, zonas residenciais, zonas industriais.... ) em cima desta paisagem era o suficiente para colocar tudo em risco.

Nestes momentos fica claro para mim que o caminho actual é completamente insustentável. Não sou um fanático, o modelo actual com todos os defeitos trouxe-nos até este ponto de desenvolvimento. Não estou a advogar voltarmos todos a uma existencia naturalista sem os beneficios da modernidade. Apenas que o conhecimento e a experiência acumulados até agora não deixam grande margem para dúvida sobre o futuro. Ou a dado momento existe um desenvolvimento tecnológico, ou deveria dizer, uma verdadeira revolução tecnológica que permita aliviar o nosso peso no planeta, ou então a Humanidade é realmente um vírus que vai acabar por exaurir a Terra.

Para já o trabalho aqui bem na terra continua. é preciso incrementar os HDI's...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Retiro



Quase sem internet, as vezes sem telefone.... e um lago infindável no meio de um continente. Retiro até domingo.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Miles

4 meses ao som de 70.000 milhas...



And here I go again... away with the sea...

domingo, 23 de agosto de 2009

Tay-Pan

Era o que mais corria da ninhada, em raides ultra-rápidos cruzava a sala do apartamento que tresandava a gatos e a cheiro de gatos.
- Tem um pouco de nariz... por isso faço-lhe um desconto.

A mim pareceu o mais bonito. Seria talvez um patinho feio potencial e eu podia muito bem estar a salva-lo de um mundo de discriminação e ostracismo... Pelo menos esta fantasia ajudou-me a ultrapassar aquele choque de pagar por uma vida de companhia. Eu queria ao meu lado vida, agitação, independência e pouco trabalho. Acabei por vir a correr todos os dias para casa para não o deixar entregue à solidão à qual eu também fugia. Foi como o amor, ou como eu imagino o amor. O primeiro choque da paixão e os exageros do costume. Depois com o tempo a paixão diminui e fica o amor... nos trabalhos que dá e nos momentos que partilha. E partilhou muita coisa. Foram 5 anos cheios sobe o seu olhar curioso, arrisco que as vezes preocupado, sem nunca proferir uma só palavra. No auge da sua idade, vejo-lhe os seus primeiros pelos brancos, certamente reflexos também dos meus que agora me recordam esta meia década...

Não quero saber dessas preconcepções dos gatos sobre as casas, ou a mão que lhe da de comer. Passou por 3 casas e ainda perde o seu apetite de cada vez que estou fora. Brinca com tudo e com todos os que vistiam, mas protesta comigo a cada regresso, quando na verdade só quer o meu carinho. Sai e desaparece para as suas voltas sendo que é o meu quarto que procura ao final de cada dia. Esta é toda a independência e partilha que peço. Eu gosto de felinos, compreendo-lhes o sentido e isso ajuda-me a aprecia-los. Voltarei a ter um cão, mas serei para sempre gato. Le chat Tay é assim mais do que nunca o Tay-Pan - o Senhor da Casa - já que casa para mim é agora invariavelmente onde ele está.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Compras

Estão 30 graus as 20h, e no entanto o frenesim à minha volta de pessoas a comprar compulsivamente, familias inteiras a preparar-se para a festa... faz-me lembrar o Natal!

Pagão

A minha visão ainda muito eurocentrica tem destas falácias... assumia que o paganismo é algo que apenas existe encavalitado ao cristianismo e em particular ao catolicismo. A grande ignorância face ao mundo islâmico levava-me a pensar que não haveria espaço para ritos pagãos num mundo que julgava erroneamente mais depurado de outras influências. É óbvio que não podia estar mais longe da verdade.

Durante aquela tarde tive direito a tudo: homens em transe e possuídos por espíritos, sacrifício de borregos que são esquartejados em público... e geral comoção pública das massas em delírio. Podia começar por dizer que todas estas religiões derivam da mesma raiz... mas é definitivamente a religiosidade (paganismo para alguns) que deriva realmente da natureza humana. A riqueza desta temática ultrapassa-me por completo, mas sobre isto das religiões voltarei mais tarde com a minha visão mais mundana... Entretanto segue dentro de momentos o Ramadão!

Aquele chapéu escondeu a face possuída por um espírito...

Forró

Não se tratava propriamente de desconhecimento. A minha quota parte de incursões pela noite africana do Porto já me tinha humildemente colocado a par da colossal decalage ritmica e sobretudo expressividade corporal. Mas hoje eu jogava em casa. Bom... era pelo menos casa de irmãos e julgava eu ter um ou dois trunfos. Pois sim... foi como diz o outro... quinze a zero, e o apanha bolas ainda foi la depois meter mais um golo!

Adivinham-se tempos difíceis debaixo das bolas de espelhos por este continente abaixo...


Adenda: ainda tenho a minha última trincheira... jogo tudo na pasion!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Man

Sobre o Tempo, a que voltarei mais tarde...

A man doesn’t have time in his life


A man doesn’t have time in his life
to have time for everything.
He doesn’t have seasons enough to have
a season for every purpose. Ecclesiastes
Was wrong about that.

A man needs to love and to hate at the same moment,
to laugh and cry with the same eyes,
with the same hands to throw stones and to gather them,
to make love in war and war in love.
And to hate and forgive and remember and forget,
to arrange and confuse, to eat and to digest
what history
takes years and years to do.

A man doesn’t have time.
When he loses he seeks, when he finds
he forgets, when he forgets he loves, when he loves
he begins to forget.

And his soul is seasoned, his soul
is very professional.
Only his body remains forever
an amateur. It tries and it misses,
gets muddled, doesn’t learn a thing,
drunk and blind in its pleasures
and its pains.

He will die as figs die in autumn,
Shriveled and full of himself and sweet,
the leaves growing dry on the ground,
the bare branches pointing to the place
where there’s time for everything.

Yehuda Amichai

Poeta Israelita, retirado daqui

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Calculados

Um Risco calculado é das coisas mais arriscadas que conheço. É que raramente temos moeda para as contas finais aos cálculos.

domingo, 16 de agosto de 2009

Engordar

Decidi engordar. Bom, o termo talvez seja antes avolumar. A ideia é sobretudo quando estiver de frente não parecer que estou de lado...

Em todo o caso é impressionante verificar que esta afirmação produza tamanha convulsão e até certa inveja. Não há novidades aqui sobre a cruel sociedade que vivemos. Ao mesmo tempo que nos são presenteados para consumo imediato todos os excessos possíveis que inevitavelmente levam as acumulação indesejadas, os cânones de beleza apontam para uma elegância impossível para o comum dos trabalhadores quotidianos que não tenha o tempo e a disponibilidade necessaria para um afincado cuidado com o corpo.

E no entanto, não sei se por culpa da DOVE, ou de uma sensação de mudança colectiva... não esperava ver a irritação de tantos que afinal continuam envolvidos neste combate dia-a-dia com a gordura. Julguei sinceramente que colectivamente estávamos menos histéricos com a magreza e um pouco mais em paz com a nossa silhueta colectiva. Sobretudo parece-me fundamental evidenciar que o combate não deve ser travado com a gordura, mas com o objectivo de atingir um equilibrio próprio pessoal de cada um. A gordura (ou já agora a falta dela) não é um problema, é um sintoma.

E fica aqui uma declaração de interesses: Eu sempre achei que gordura pode ser formosura!

Mas... continuando, e umas bolachinhas de chocolate não se arranja?

Eco

Um eco do calor, que veio desde o outro lado do atlântico.



E agora... a banhos, porque ainda está muito calor..

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Pulga

Passei anos em que por umas temporadas setembrinas submergia intensamente na vida campestre. Filtrada pela bonomia do olhar de criança a rudeza da vida do campo, numa altura em que a modernidade teimosamente se recusava a chegar àquela aldeia perdida num vale do Minho, funcionou como um bálsamo protector de alma que me manteve ligado à terra, ao campo e a meninice até hoje. A estes momentos que me são tão queridos, voltarei com mais tempo...
Mas foram também esses períodos que me expuseram à Natureza em todo o seu esplendor... e malefícios. Adicionalmente à animalada da quinta surgiam sempre as cobras, os lagartos, os sapos, os escaravelhos... tudo servia com objecto de brincadeira, e no processo vinham as lagartas pessonhentas, os piolhos, as lendias, os ferrões de abelha, as mordidelas de tudo e mais alguma cosia, enfim... deu para experimentar e ver quase tudo, num curso intensivo empírico de como lidar com estas pestinhas no futuro.

Enquanto me baixava para arrumar o cd, vejo um minúsculo ser a circular que me pareceu algo deslocado daquele cenário. Mas foi só quando ensaiei o seu esmagamento que ele me apanha de surpresa com o seu salto salvífico! Hmmm... aspecto asqueroso, minúsculo... e salta... é uma Pulga! Como é possível que se chegue a esta idade sem reconhecer uma pulga? Que falha no meu curso de formação foi esta?! E mais importante... que faço agora que tenho pulgas em casa?
É impressionante como anos de asséptica vivência urbana europeia quase me fizeram desaparecer a percepção do mundo real. As baratas, as pulgas, as formigas e demais bicharada foram erradicados do apartamento e da moradia de jardim de cimento que pululam a paisagem urbana. Restam os mosquitos, moscas e demais alados que mesmo assim já pouco podem contra os eficazes difusores electricos. Dito isto, eu não sou um amante de insectos, muito pelo contrário, e faço uso de todas as armas de destruição maciça nesta guerra. Mas esta é uma guerra colateral ao prazer de ter um jardim e viver em contacto com a Terra. E este é um preço que eu não me importo de pagar...

Nos TOR deste blog consta também a elaboração e registo de todas as notas possíveis para a preparação condigna da futura prole. Assim fica a nota no painel da Loja... que filho meu vai ter de saber identificar e aplicar técnicas de combate corpo-a-corpo com uma pulga, um piolho, uma carraça, uma barata e demais insectos mundanos, desde bem pequeno.

adenda aos amedrontados: a pulga foi finalmente esmagada e foram tomadas as devidas medidas sanitárias de desinfestação da casa.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Plaza

É provável que todos que ali entram tenham a mesma sensação de passar pelo buraco de Alice para um mundo completamente louco. Talvez sugerido por essa loucura, do meu imaginário cinematográfico saltou-me a ideia quando lá entrei a primeira vez, que poderia estar num bar da Saigão dos anos 60. Transmitir uma noção clara do espaço é quase impossível. O complexo hotel/restaurantes/discoteca é um genuíno e sentido hino ao kitsch, um crónico work in progress do orgulhoso proprietário André Backar, orfão que procurava o seu pai, que acabou perfilhado pelo American Dream. Com anos de labiríntico crescimento orgânico alimentado por uma acumulação dos mais improváveis ornamentos e adereços que André foi escolhendo pessoalmente, no Plaza é possivel encontrar palmeiras eléctricas, candelabros, lustres, candeeiros chineses, todo o inimaginável merchandising publicitário de bebidas, índios, neons, baloiços... uma parafernália que invade a visão e aniquila as referências. No final resulta um mundo estranho que serve o mais improvável cocktail de gente igualmente estranha. Descontando a ausência dos G.I.'s, a frequência é também ela própria do meu bar imaginário de Saigão. Estão lá todos... os ricos, os poderosos, os mafiosos (usualmente concomitantes) os estrangeiros, e as inevitáveis flores que vivem desta fauna. O ambiente camaliónico oferece o refúgio necessário aos foragidos dos minaretes, e por umas horas cada um tem ali o seu pequeno mundo imaginário. E é por isso que eu me sinto bem ali.

Poolview: particular atenção por favor às palmeiras eléctricas, aos candeeiros chineses e mais à esquerda alguns dos lustres, aos variados toldos e, claro, os nunca simpáticos garçons marujos...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sunflower

É com extremo pesar que venho atestar a morte prematura do ser verde, de seu nome Helianthus Annuus, que emergia de dentro de uma lata e procurava o Sol...

(aqui na foto, como foi vista pela última vez ainda com vida)

As conclusões da autópsia confirmam morte por ausência prolongada à exposição solar. Eventualmente, alguma carência de água pode ter contribuído... mas coisa pouca.


Informam-se todos os seus falimiares e amigos... que se procura substituto.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Costela

- Afinal, por muito que o negues, tens uma costela de esquerda...
- Agora que falas nisso, efectivamente tenho uma costela flutuante esquerda a desviar para fora...
- Talvez isso explique algumas coisas...

Eu sabia que devia ter corrigido cirurgicamente o raio da costela!

Calor

Alimentei durante anos a ideia de que a geografia mais apropriada para eu viver bem e em qualidade teria de possuir uma boa dose de calor. Mais em concreto um reconfortante calor seco. Não tenho pele para a humidade tropical, e mesmo quando procuro o cocktail servido com coqueiro e mar turquesa, tento evitar os trópicos.
Em particular a minha sedução desde pequeno foi o Mediterrâneo, numa traição atlântica inexplicável... Sonho com a terra quente, os jardins verdes com pedras amarelas, os ciprestes, as cigarras, o campo rasgado por caminhos sinuosos, a brisa morna, as árvores verdes no contraste do céu azul tórrido, as sombras fortes, os penhascos, as águas quentes, o branco dos barcos no azul profundo... e depois as vilas, com as cores garridas, as boganvilias exuberantes, o barro dos telhados, as janelas altas com portadas de ripas, as varandas, as ruas empedradas, as manhãs vibrantes, a letargia pós-almoço, as tardes tépidas, o crepúsculo no lado roxo do espectro, as noites confortáveis que se estendem até de madrugada. os portos com barcos de pesca... até mesmo as grandes cidades, com o movimento que só este clima permite, as esplanadas cheias, as praças agitadas, o temperamento das gentes, a culinária que satisfaz...
No meu subconsciente existia a reserva de que o motivo certo surgiria algures para me oferecer o meu Mediterrâneo no caminho.

Chego a casa envolto num calor tórrido, passo por baixo da boganvilia roxa, cruzo o jardim verde manchado pelas sombras fortes das oliveiras, pouso as malas e abro as portadas de ripas das janelas turquesa. Deixo entrar a luz e observo a paisagem...


Bom... acho que já estive mais longe! Agora só falta saber como passo para o outro lado...

Movimento

Por força da natureza pouco clara do objectivo do blog, convém avisar os potenciais leitores de que este é um blog em movimento. Portanto é possível que alguns escritos sejam posteriormente alterados. Prometo apenas não apagar. O que foi sentido e escrito fica lá. De outra forma não faria sentido manter um registo.
Mas está em aberto a possibilidade de que vá elaborar com mais profundidade algum assunto, ou acrescente nova perspectiva surgida de outra reflexão. E se por ventura mudar de ideias, pois o blog será o primeiro a saber.

domingo, 9 de agosto de 2009

Campeões

Michael Schumacher vai regressar à competição. As circunstâncias em que tal acontece são tristes e excepcionais. A Ferrari enfrentava algumas escolhas difíceis, mas isso per si não seria com certeza motivo suficiente para justificar o seu regresso. Michael S. é reconhecidamente um voraz competidor, ao ouvir os seus motivos para regressar fica claro na verdade que o Campeão crónicamente competitivo fraquejou e cedeu à tentação pessoal de voltar aos circuitos nem que seja por algumas corridas.

Há algumas semanas atrás era Lance Armstrong que regressava depois de um prolongado retiro. O lugar mais baixo no podium em Paris é uma proeza, mas... a Lance isso não o sacia. Afirma que para o ano estará novamente nas estradas de França para mais uma tentativa, sendo que já nem os seus mais fanáticos apoiantes acreditam que ele consiga chegar novamente ao primeiro lugar. Isso no entanto não o demove.

Com as devidas diferênças, ao regressarem à competição nenhum dos dois soube realizar o seu retiro definitivo. Pessoalmente tenho dificuldade em criticar esta atitude. É certo que prezo muito a dignidade e reconheço que saber parar no momento certo é fundamental. No entanto o caracter de determinação, a humildade em enfrentar a possibilidade de falhar, e o genuíno sentimento por aquilo que se faz, parecem-me ultrapassar largamente em dignidade tudo aquilo que foi alcançado pelo retiro do activo em momentos aureos das carreiras.

Ambos estes homens sabem que é impossível regressar à glória do passado. Eles simplesmente querem ir mais longe, com ou sem novas glórias, apenas por gosto, porque são assim, porque são campeões...

domingo, 2 de agosto de 2009

Brasileiros

Foi um serão rodeado de sotaque. Gosto de estar entre eles. Sabem receber e fazer sentir em casa. Há sempre alegria, informalidade, cultura, inteligência, o humor das piadas ao Português que são lançadas aqui com uma candura de fraternidade. A inevitável viola. Fortalecem-me a crença que um dia casa será também por lá. A energia é contagiante, mesmo quando grande parte do serão é embalado num coro de vozes que cantam amores não correspondidos, choram vidas perdidas ou corações mal tratados...

No final saio com a certeza que num tom e ritmo diferente, por muito que não queiram admitir, bem escondida no peito está a infecção do Fado lusitano.


sábado, 1 de agosto de 2009

CC

Por infelicidade fui introduzido às maravilhas do Cartão do Cidadão (não sei onde e quando foi que o cartão passou de "Único" a "Cidadão"... mas simplesmente livraram-se de boa...). É daquelas inovações sobre as quais tenho verdadeiros sentimentos contraditórios. Sendo eu completamente despistado e preguiçoso, a ideia de concentrar toda a burocracia num simples cartãozinho que fica bem guardado num espaço da (agora possível) minúscula carteira é absolutamente brilhante! Acresce ainda que um assumido geek só pode adorar o gadgetzinho que permite ligar o bicho ao computador, validando assim operações que de outra forma me obrigavam a morosas e extenuantes deslocações a repartições públicas. Estando no estrangeiro, isto é ainda mais precioso. O problema é o Sistema, a fobia ao Estado e ao controlo absoluto da nossa intimidade, para o qual vamos resvalando alegremente, seduzidos pelas vantagens da modernidade, amedrontados pelos perigos da actualidade...

Não é simples preconceito. Não interessa que até já podiam cruzar tudo e mais alguma coisa. A displicência com que vamos permitindo que se derrubem pequenas barreiras legais, vedações que nos protegem a intimidade, faz-me temer que estejamos a perder a noção de conceitos básicos à liberdade individual. A verdade é que troco grande parte das facilidades de tudo isto, por estar confortável que ninguém me vai andar a vasculhar a vida privada. Sobre isto, a violação de privacidade, a natureza do Estado, e outros que mais, voltarei mais tarde...

Por agora, surge-me apenas como natural que cada vez mais haja quem queira dizer... "Estou fora do mundo"!

Leite

- "And how many kids do you have?"
- "Me?! None! Actually I live by myself... why do you ask?"
- "Oh... sorry... I saw you getting in your house with a six pack of whole milk... and just assumed it!"

É incontornável, tenho de lidar com a minha inner child... já deixei de ter idade para beber leite gordo!
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