domingo, 6 de setembro de 2009

Istambul


Fui sequestrado... por uma cidade. Desenvolvi não o síndrome de Estocolmo... mas de Istambul. Nunca nenhuma cidade me cativou tanto à chegada como esta. É um ser vivo que une 8 milhões de almas e pulsa com a força de milénios feitos da história que é também a minha. É notória a minha dificuldade em descrever tudo aquilo que me cativa, fico portanto pelos pequenos pormenores. No cenário que acolhe o ser tudo tem um pormenor, a começar logo pela arquitectura. A arquitectura monumental é singular. As mesquitas, os palácios e as casas aristocratas foram traçadas numa mescla única estonteante e só possível nesta encruzilhada. Em particular as construções do século XIX que trouxeram de Paris a raiz e o tronco e depois deixaram florescer as copas cheias de orientalidade. Todas tem um pormenor histórico que não poucas vezes moldou o que é a actual Europa. Para mim de início tudo parecia saído de um cenário cinematográfico de ficção cientifica, mas é precisamente o inverso pois foi aqui que muitos desses cineastas se vieram inspirar. Mas mesmo os vulgares edifícios, tanto novos como antigos, não são nunca básicos. Há sempre uma varanda, uma coluna, uma janela pouco natural, a escada em caracol, um pátio, uma vereda que envolve o prédio... mostrando que a natureza está ali sempre presente, desde as águas do canal que alimentam a cidade, até as árvores que com as suas copas tentam esconder os minaretes e cúpulas que despontam por toda a cidade como dedos apontados aos vários deuses que a governa(m)ram. Os prédios que encavalitam-se nas colinas num ziguezagueante desconcertado harmonioso feito de ruelas, vielas, avenidas, becos sem saída, praças, largos, pátios e os terraços... Ah, aqui pululam casas e prédios com um terraço com vista para a cidade. Nunca encontrei nenhuma cidade que vivesse tanto no último piso... sem contemporizações, tudo é aproveitado e modificado para que mesmo a mais obscura entrada para uma velha e sinuosa escada, acaba por revelar um magnifico rooftop para em sofisticação se poder estar confortavelmente a ver o cruzamento do mundo pulsar. Nada portanto é óbvio, e não fosse a referência visual do canal e a navegação pelas ruas exigiria sempre um mapa. E mesmo o canal, surpreende. Estou à espera de um rio, mas o azul profundo das suas águas que se movem livres de uma corrente desengana-me os olhos. Esta é a junção de dois mares que se intromete entre dois continentes, duas culturas... como dois amantes distintos, opostos, separados, mas intemporalmente ligados. A cidade surgiu e vive ainda pelo canal, onde a circulação de barco não é um mero arcaísmo... as casas, os hotéis e até as discotecas na margem recebem nos ancoradouros todos os aqueles que não passam pelas duas pontes. E é aqui que entra o turbilhão de gente. Muita. Esta é realmente uma metrópole Europeia, mas não há no velho continente nada que se lhe aproxime. Os números aqui estão presentes nas ruas, no transito, na água, na vida desordenada oriental que se move em cima de uma malha tentativa de organização ocidental. Este cruzamento, como incansavelmente lhe chamam, é feito de tudo com um nível cosmopolita que envergonha as grandes capitais europeias. E no entanto a sofisticação e até o vanguardismo anda de braço dado com o mais prosaico conservadorismo. Esta é uma cidade de todos... numa terra islâmica. Eu estou tomado pela cidade. Não falei ainda da luz, dos cheiros, das línguas, das culturas, das actividades... de tudo quanto ali está e que eu nem sequer conheço mais do que arranhei na superfície. No entanto conheço-lhe já os sinais, e alguma vivência... e ela conhece também já alguns apontamentos da minha vida.

*na falta de qualidade das minhas fotos, deixo uma tirada do google.


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