quarta-feira, 5 de maio de 2010

TimeOut


É uma cidade pequena. É uma cidade fechada. É uma cidade cinzenta. É também a minha cidade. O que não quer dizer que não venha a ter outras. Existem sempre outras... Mas este será um daqueles casos que o primeiro amor ficará para toda a vida. 

Foi um verdadeiro flashback saudoso percorrer as 101 actividades propostas pela TimeOut Porto nº1 para fazer na Mui Nobre e Sempre Leal Invicta. Na verdade, entre esta centena de coisas estimulantes, relaxantes, interessantes ou simplesmente curiosas, estão algumas recentes inovações trendy, ou da moda, de gosto dúbio e que certamente não constarão de hipotética igual lista a ser lançada no nº100. Mas em todo o caso o meu Porto está ali. Não é só aquele, há muito mais que ali não está. Mas em cada passo, a cada proposta, eu reencontrei-me ali, naquele local num qualquer momento pretérito do tempo.

Não vou esconder o meu provincianismo ao regozijar com a criação da TimeOut Porto. Só posso entender que se foi criada é porque a cidade atingiu uma maturidade cultural que lhe permite alimentar mensalmente aquelas páginas. Passa agora a figurar ao lado de centenas de cidades de reconhecida valência cultural e que por isso justificam a criação de uma magazine, um guia, um compêndio de tudo aquilo que um punhado de iluminados do momento mais os apoios publicitários colocam a chancela de: relevante!
Por outro lado, e a julgar por algumas recentes inovações no mercado das publicações em Portugal (ver a fraca qualidade da Playboy Portugal) já compreendi que há iniciativas que se revelam ser menos pensadas e programadas do que inicialmente seria de esperar e o resultado é bastante desapontador. Por tudo isto, convém controlar as expectativas já que não sei quanto tempo vai durar e que conteúdos vai poder continuar a apresentar. Temo até que, dentro de um ano ou assim... o flare inicial se tenha desvanecido e simplesmente se coloque em stand-by o projecto.

Mas o meu provincianismos bacoco é mais profundo. Talvez inclusive se revista de um certo egoísmo conservador. Eu não gosto de ver as minhas memórias, a minha cidade, a minha vida... num guia! É uma violência olhar para as experiências que vivi e imaginar alguém com uma revista na mão entrar pela porta a dentro à espera de encontrar os tais cachorros que eu só descobri passados muitos anos que existiam numa porta pequena, algumas ruas ao lado da minha faculdade, ou saírem da discoteca de máquina na mão para fotografar aquele nascer-do-sol do miradouro às 0730 da manhã porque a revista diz que é fenomenal! Foram tudo pequenos segredos e surpresas que me levaram anos descobrir, com os quais cresci, alguns fruto do acaso, outros partilhados no falso segredo da amizade. É por eu possuir aquele conhecimento que as pessoas sabem também que aquela é a minha cidade.

Aquele guia... banaliza-me e mercantiliza-A. Alguém pegou num património cultural comum... e colocou-o ali à venda. Da próxima vez que alguém visitar a Invicta e me perguntar por dicas... posso simplesmente dizer: vai ver a revista!

Estou provavelmente a exagerar e a mentir. Na verdade... o que eu diria seria: bai ber a rebista! ...e isto, acho que nem a TimeOut consegue por alguém naturalmente a dizer!

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