sábado, 1 de maio de 2010

Artificial

ar.ti.fi.ci.al - comum de dois géneros

1. Feito por arte ou indústria;

2. Que não é natural;

3. Dissimulado; fingido; postiço;

Assim é o Dubai. Artificial. Mais pelos dois primeiros que do último. Não encontro muita dissimulação. Tudo que é copiado, é assumidamente assim. Talvez postiço seja o enquadramento islâmico, pelo desvirtuar da génese cultural arábica... resultado de uma intensa pressão demográfica externa trazida pela evolução civilizacional empurrada à força do dinheiro do petróleo. No entanto a artificialidade é total. Nada é natural. Não houve aqui uma evolução espontânea normal. Nem a pouca vegetação existente foi per si gerada. Tudo foi trazido de fora e feito sobre as areias vazias do deserto. Se esquecermos a oração que se faz soar nos corredores do shopping, e um ou outro constrangimento que resiste ainda do legado árabe, o Dubai é com certeza um dos locais mais multiculturais do planeta. 90% da população é estranha a este lugar, aqui reside sem lhe chamar casa. Vem de toda a parte do mundo, será por ventura o mais semelhante que possuimos neste momento a uma estação Lunar na Terra. Pelo menos aridez vazia é o que não falta à volta. Não é a artificialidade que me incomoda.

Depois existe a oferta. O consumo bate-se subrepticiamente pelo lugar de religião predominante. Mas se o consumo é associado a bens materiais, todos os que existem à face do planeta e em particular os mais luxuosos, por outro lado também é composto pela oferta cultural. Não é certamente Berlim, ou NYC, ou Londres, ou Paris, mas o que de melhor se faz musicalmente e de exposições passa de tempos a tempos por aqui. Não se sobrevive mentalmente... até aí vive-se com luxo.

A constatação mais marcante é a de que todos os que vieram, somados aos poucos que cá estavam, vieram sobretudo pelo dinheiro. O que move aqui as pessoas é a ganancia e ambição. Como uma versão moderna de uma cidade do ouro no oeste americano, desta feita sobre a capa da sofisticação da knowledge economy e dos serviços de topo. Todos passam por aqui para ganhar o seu quinhão. Outros vêm simplesmente na expectativa de encontrar naquele restaurante ou naquela reunião o furo das suas vidas. Passeio-me entre eles e ouço as suas conversas. Não lhes reconheço uma ambição ou ganancia desmesuradas. Se há algo que posso distinguir é a cosmopolitismo e a diversidade que enriquecem o ambiente. O problema é o resultado do somatório destas vontades, destas predisposições mentais... um individualismo hedonista que, como um estupefaciente incolor e inodoro, inquina as águas dessalinadas roubadas ao mar que sustentam esta babilónia e todos intoxica. Não há um fito comum à comunidade... todos apenas estão aqui para e por si, e desejam invariavelmente partir.

Uma terra de passagem, de crescimento, artificial, e de sustentabilidade precária. E no entanto... extremamente divertida!


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