Como seria de esperar Tunís está igual. Passaram pouco mais de 18 meses, e
naturalmente pouco ou nada mudou na cidade. Talvez alguns sinais de descuido em
certas infra-estruturas, os jardins menos cuidados. Por outro lado também
algumas obras foram terminadas oferecendo a ilusão de alguma evolução. Dizem
que há agora mais lixo e que o trânsito, a ordem, estão (ainda) mais caóticos.
Sobre o lixo não me posso expressar. Nunca considerei a cidade e muito menos o
seu povo limpo. Bem pelo contrário. Talvez o anterior regime fosse mais
aprumado sobretudo em zonas ricas e turísticas, mas havia sempre lixo, pó,
areia a voar por todo o lado. Aqui sinto que pouco ou nada mudou.
*O lago de Túnis, visto de Berge du Lac, com a cidade ao fundo.
O caos e a ordem, talvez os tenha sentido diferentes. Não pior, não melhor,
mas diferente. O trânsito continua igualmente caótico. Sinto que o temor à
policia é agora muito menor. Talvez aqui a Ordem
tenha-se deteriorado. No entanto, isto significa apenas que os eventos
extraordinários que a observação da circulação automobilística diária nos
oferecia são agora em maior número, mas não necessariamente mais
surpreendentes. O nível das peripécias está apenas no limite da imaginação
deste povo. No transito são como as crianças imberbes que não tem a noção ainda
do mundo e de que vivem em sociedade, o que recomendaria a assunção de regras
básicas de convivência e civismo. Tudo é directo, tudo é simplificado e
instintivo, numa racionalidade básica e primária. É o “eu quero”, “eu posso” e
“eu faço”. A única coisa que talvez então tenha mudado é que realmente agora o
“posso” é mais lato. Aqui as diferenças para a Moçambique são enormes, mas
sobre isto volto depois…
É contudo aqui que talvez a diferença seja mais clara. As pessoas estão
diferentes. Sinto que a população está mais espontânea. Não arrisco dizer mais
“livre”, já que não estou seguro que efectivamente se tenha hoje mais
verdadeira liberdade. Existe com certeza mais liberdade de expressão, mas
outras liberdades, como por exemplo a religiosa ou a de se vestir como se
desejar, estão agora mais constrangidas. Mas efectivamente senti os tunisinos
mais espontâneos. Uma alteração bem-vinda num povo que no passado a momentos
surgia quase que saído de um filme de zombies, espartilhados pelo regime e a
religião… eram mortos-vivos sem expressão.
No final, contudo, não posso dizer que tenha sentido a cidade melhor. As
pessoas estão mais espontâneas sim, mas paradoxalmente mais preocupadas. Há um
sentimento de efervescência e inquietude que trespassa de diversas formas. Há
apreensão e insegurança. Há também agora mais medo. Um medo diferente do
anterior, o do regime, sendo que este é mais básico e constrangedor. Há medo de
sair a noite, de ir a certos locais. E há também um novo medo, medo dos
“barbudos”…
É o produto próprio de uma revolução. É igualmente um dos trade-offs mais
polémicos, este o de perder algumas liberdades para se ter outras.
No final, senti que por agora futuro não sorri à Tunísia… sobre isto voltarei depois.
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