sexta-feira, 8 de março de 2013

Túnis


Como seria de esperar Tunís está igual. Passaram pouco mais de 18 meses, e naturalmente pouco ou nada mudou na cidade. Talvez alguns sinais de descuido em certas infra-estruturas, os jardins menos cuidados. Por outro lado também algumas obras foram terminadas oferecendo a ilusão de alguma evolução. Dizem que há agora mais lixo e que o trânsito, a ordem, estão (ainda) mais caóticos. Sobre o lixo não me posso expressar. Nunca considerei a cidade e muito menos o seu povo limpo. Bem pelo contrário. Talvez o anterior regime fosse mais aprumado sobretudo em zonas ricas e turísticas, mas havia sempre lixo, pó, areia a voar por todo o lado. Aqui sinto que pouco ou nada mudou.

*O lago de Túnis, visto de Berge du Lac, com a cidade ao fundo.

O caos e a ordem, talvez os tenha sentido diferentes. Não pior, não melhor, mas diferente. O trânsito continua igualmente caótico. Sinto que o temor à policia é agora muito menor. Talvez aqui a Ordem tenha-se deteriorado. No entanto, isto significa apenas que os eventos extraordinários que a observação da circulação automobilística diária nos oferecia são agora em maior número, mas não necessariamente mais surpreendentes. O nível das peripécias está apenas no limite da imaginação deste povo. No transito são como as crianças imberbes que não tem a noção ainda do mundo e de que vivem em sociedade, o que recomendaria a assunção de regras básicas de convivência e civismo. Tudo é directo, tudo é simplificado e instintivo, numa racionalidade básica e primária. É o “eu quero”, “eu posso” e “eu faço”. A única coisa que talvez então tenha mudado é que realmente agora o “posso” é mais lato. Aqui as diferenças para a Moçambique são enormes, mas sobre isto volto depois…

É contudo aqui que talvez a diferença seja mais clara. As pessoas estão diferentes. Sinto que a população está mais espontânea. Não arrisco dizer mais “livre”, já que não estou seguro que efectivamente se tenha hoje mais verdadeira liberdade. Existe com certeza mais liberdade de expressão, mas outras liberdades, como por exemplo a religiosa ou a de se vestir como se desejar, estão agora mais constrangidas. Mas efectivamente senti os tunisinos mais espontâneos. Uma alteração bem-vinda num povo que no passado a momentos surgia quase que saído de um filme de zombies, espartilhados pelo regime e a religião… eram mortos-vivos sem expressão.
No final, contudo, não posso dizer que tenha sentido a cidade melhor. As pessoas estão mais espontâneas sim, mas paradoxalmente mais preocupadas. Há um sentimento de efervescência e inquietude que trespassa de diversas formas. Há apreensão e insegurança. Há também agora mais medo. Um medo diferente do anterior, o do regime, sendo que este é mais básico e constrangedor. Há medo de sair a noite, de ir a certos locais. E há também um novo medo, medo dos “barbudos”…

É o produto próprio de uma revolução. É igualmente um dos trade-offs mais polémicos, este o de perder algumas liberdades para se ter outras.

No final, senti que por agora futuro não sorri à Tunísia… sobre isto voltarei depois.

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