domingo, 9 de outubro de 2011

Rugby

Aos domingos à tarde, no meio da sonolência digestiva dos comeres maternais, surgia na televisão aqueles jogos de um desporto que pouco sabia sobre... era Rugby. Foi assim que aprendi as regras basilares do desporto. Espantava-me o contraste entre a dureza física dos embates e a parcimónia ao desfazer dos reboliços, mas sobretudo o que me fascinava era o épico confronto das nações. Para mim rugby era sinónimo de Torneio das Seis Nações... o que para uma criança seria o mais perto que podia almejar a ver reais batalhas medievais. Existia ali algo de raro num mundo desencantado pós-modernista dos 80s.... honra, suor e sangue. E muito poucas lágrimas...

Em Portugal o Rugby nunca passou das elites para a burguesia, muito menos para o povo. Também por isso não sou versado no tema, nem sequer arrisco opiniões técnicas. Podia referir pequenos grandes pormenores como o facto das camisolas não terem nomes, mas isso não impedir a existência de lendas, vivas e mortas. Ou o facto de se vencer o jogo correndo para a frente, mas só se puder passar a bola para trás, para os que estão sempre atrás de ti para te apoiar. No entanto, deixo-me ficar pelas fortes impressões que o desporto me causa... Equipa, Esforço, Força, Inteligência, Respeito, Ambição, Solidariedade, Emoção, e Sangue... simplesmente não encontro paralelo no mundo do Desporto. Na verdade... isto é muito mais do que desporto, é um quadro anacrónico do que já foi, e hoje claramente o mundo não é.

Acabei por ponderar que gostaria de proporcionar a um filho uma inclusão num meio assim. Vontade apenas refreada pela percepção da dureza física do desporto. Estes homens, ou estes guerreiros como usualmente são apelidados por comentadores, embatem-se corpo a corpo, pisam-se, empurram-se, esmagam-se consecutivamente durante 80 minutos... Não há cavalheirismo e parcimónia que consiga poupar o corpo a isto. Gostava de perceber um dia como ficam eles depois de uma carreira de competição. Certo é que as prima-donas do futebol não resistiriam a 5 minutos disto. E é por isso que hoje levanto-me de madrugada, para assistir ao que de melhor se faz disto no mundo.
O Seis Nações continua a ser uma referência, mas o mundo medieval europeu teve o seu apogeu há muito e actualmente é o Sul emergente que tem levado a coroa do mundo. Talvez sejam estes ares a sul do Trópico de Capricórnio que me influenciam, ou então é mesmo uma tendência Lusitania, mas é com estas orgulhosas forças elementares da natureza que eu me identifico. Particularmente os da África Austral... com as suas mesclas de raças, qualidade e brutalidade. É uma nação estranha... mas que se entranha. Fica aqui também uma referência aos nossos Lobos, a nossa equipa lusa que na sua aparição isolada no último campeonato, mostrou que Lusos ainda sabem bater-se por algo.

Eu sei que o desporto tem mudado. Que provavelmente até o rugby irá sucumbir as vicissitudes das profissionalizações e do mundo competitivo de hoje. Mas até lá, perco alegremente horas de sono para vibrar com estes guerreiros do mundo moderno.

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