sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Perene

Venho das regiões temperadas, onde o inverno é feito de caducidades, coisas que se deixam cair e murchar. Tempos agrestes de limpeza feita ao gosto dos vendavais e de enxurradas de águas cinzentas em terra escura. O recolhimento para o recato quente. O preparo cuidado e ponderado de uma nova primavera.

E por isso estranho este frio. O branco caiado fica vazio sem o calor do verão. Como um quadro que desbotou queimado pelo sol. O vento cortante sacode os arbustos e as árvores de folha perene. O ar enche-se de ruídos estranhos das madeiras turquesa de portadas e varandins que rangem e batem umas nas outras. As ruas de lajes gastas guardam a história como as folhas que nunca caem.

Aqui nunca se renasce. Finge-se. Não se protegem da chuva, mesmo que caia um diluvio. Espera-se que o frio passe e as nuvens sequem. Não é verão, mas também não é coisa alguma.

Hiberno, e comigo as sementes que esperam pela primavera.

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